174. Projeto de alfabetização
A ideia surgiu durante uma das sessões de mentoria. Isabela estava ouvindo Lurdes, uma senhora de fala mansa e olhos miúdos, que participava do núcleo social na zona norte da cidade. Ela era voluntária como costureira, mas sempre evitava escrever ou ler bilhetes nas reuniões. Naquele dia, em voz baixa, revelou:
— Dona Isabela… tem umas coisas que eu finjo que entendo. Mas é que eu não sei ler direito, sabe?
Isabela sentiu um nó na garganta. Sabia que o analfabetismo funcional ainda atingia muitas mulheres adultas no Brasil, mas ouvir aquilo assim, com tanta sinceridade, fez tudo mudar de escala. Aquela mulher, com mãos tão hábeis e coração tão generoso, carregava uma invisibilidade dolorosa.
Ao fim da conversa, Lurdes ainda completou:
— Se tivesse uma aulinha… só pra eu poder ler as etiquetas das roupas que eu faço… já me sentia mais dona de mim.
Foi naquele momento que a semente nasceu.
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Nas semanas seguintes, Isabela mergulhou em conversas com outras beneficiárias, discreta