O cheiro de alecrim e manteiga invadia os cômodos da casa. Miguel havia caprichado no jantar. Na cozinha impecável de mármore preto, panelas reluziam sob a luz quente dos pendentes. Ele terminava de grelhar os filés, atento ao ponto certo da carne — como Melina sempre gostou. O vinho respirava em uma taça larga, a música francesa tocava suave no ambiente. Tudo calculado para impressionar.
Melina demorava a descer. Desde cedo, Miguel notou sua distância. Havia dias em que ela parecia ausente — com os olhos fixos em lugares que não existiam ali. E mesmo quando estavam no mesmo cômodo, ele sentia a ausência dela como uma ausência física, como se o corpo presente não fosse suficiente para preencher o vazio entre os dois.Ela desceu as escadas lentamente, vestida de preto, um vestido justo que marcava sua cintura fina, saltos agulha que ecoavam no mármore claro. A maquiagem era impecável, mas os olhos... havia algo diferente neles. Um olhar duro, como se ela já tivesse