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Capítulo 7 – O Jogo Vai Começar

Sinto no ar, no peso sutil da luz que entra pela cortina translúcida, na forma como meu corpo reage ao toque do chão frio. Hoje à noite acontecerá a gala da Monteiro & Associados, e eu vou enfrentar, pela primeira vez desde meu retorno, todos os rostos que me viraram as costas… inclusive os da minha própria família.

Minha mente está centrada. A Phoenix está avançando. Conquistamos o contrato mais importante dos últimos anos e agora somos pauta em colunas financeiras que antes me ignoravam solenemente. Mas, acima de tudo, essa noite é sobre presença. Sobre olhar no fundo dos olhos daqueles que apostaram na minha queda… e deixá-los sem reação.

Durante o café da manhã, sentada à mesa com Elisa, passo os olhos na agenda da  semana. 

Assinto com a cabeça, enquanto bebo meu café preto. Forte. Sem açúcar. Como eu. Elisa percebe meu silêncio e me observa.

— Está pronta para a gala? — pergunta, com um leve sorriso.

— Estou. — Pauso, pensando melhor. — Na verdade, nasci pronta. Só precisei me reconstruir para lembrar disso.

Ela apenas assente, e voltamos à nossa rotina. O dia corre veloz entre reuniões, chamadas, análises de contratos e uma rápida visita à sede da Phoenix para revisar o planejamento da inauguração oficial. Tudo está milimetricamente sob controle. Tudo... menos as emoções que insistem em me cercar.

 Hoje é noite de guerra silenciosa, travada com vestidos de grife, olhares calculados e palavras comedidas que sangram mais do que facas.

Às 18h, estou no salão. Cabelos perfeitamente escovados, maquiagem realçando o olhar predador que me tornei, o vestido preto abraçando cada curva com a autoridade de uma rainha. O salto altíssimo é um lembrete de que cada passo será uma afronta ao passado.

Quando desço as escadas e encontro Lívia e Elisa na sala, ambas já prontas, vejo o brilho no olhar delas. Lívia solta um assobio.

— Você não está vestida pra matar, Bea… você está vestida pra governar. E talvez... pra decapitar alguns egos inflados.

— É esse o objetivo — digo, enquanto pego minha clutch. 

A limusine nos espera na entrada. Durante o trajeto, nenhuma de nós fala muito. A tensão é latente. Quando o carro finalmente para diante do hotel onde ocorrerá o evento, respiro fundo. Luzes, câmeras, jornalistas. Está tudo ali. Um tapete vermelho que mais parece um campo minado.

Assim que saio do carro, os flashes me envolvem como estalos de poder. Caminho com firmeza, ao lado das minhas aliadas. E, em poucos segundos, o burburinho começa.

— É ela… Beatrice Marchesi…

— A CEO da Phoenix Group…

— Meu Deus, ela está deslumbrante…

Sorrio. Pequeno. Contido. O suficiente para manter o mistério. Caminho até o salão principal, onde a música ambiente e os garçons com bandejas de champanhe tentam mascarar o ambiente onde as maiores feras do mundo dos negócios se entreolham.

Vejo rostos familiares. Parcerias passadas. Traições também. E então, como se o universo conspirasse para dramatizar minha entrada, os vejo: Leonardo e Isadora.

Estão conversando com um grupo de empresários. Isadora está com um vestido dourado ofuscante mas ofuscante não é o mesmo que elegante. Leonardo... bem, Leonardo tenta aparentar controle. Mas ao me ver, ele engasga discretamente com a bebida. E seu olhar muda. Como se algo dentro dele despertasse.

Cruzo o salão com passos calculados. E então, sem hesitar, me aproximo. O círculo de empresários se abre automaticamente não por gentileza, mas por reconhecimento. Todos querem ouvir o que tenho a dizer.

— Boa noite, senhores — digo, com um tom suave, porém assertivo. — Espero que estejam aproveitando a noite.

— Beatrice... — Leonardo começa. — Pensei que não teria coragem de aparecer.

— E por que não teria?  — pergunto sorrindo. 

— Sei lá! Apenas achei que não queria ver certos rostos familiares. 

— Não me importo com rostos antigos. 

Isadora segura o braço dele com mais força do que deveria. Está tensa. Nervosa. Talvez por saber que não pode competir comigo nem com minha inteligência, nem com minha presença.

— Fico feliz que tenha vindo — Leonardo continua, tentando parecer educado. — Sempre é interessante encontrar... velhos conhecidos principalmente aqueles que achamos que nunca saíram de onde estão escondidos.

— Sim — concordo, com olhos firmes. — Principalmente quando os velhos conhecidos finalmente percebem o valor do que perderam.

O grupo em volta ri discretamente. Mas o golpe foi claro. E certeiro.

Antes que Isadora tente alguma réplica, viro-me para cumprimentar outros convidados. Durante o resto da noite, recebo elogios, sou cercada por investidores interessados, escuto propostas e troco contatos. Mas o que realmente saboreio... é o incômodo que causei.

E quando me sento, por fim, à mesa ao lado de uma das grandes investidoras do mercado europeu que coincidentemente, é minha parceira mais recente, olho diretamente para Leonardo e brindo.

Estava conversando quando minha mãe apareceu à minha frente, como sempre impecável.

Vestia um vestido vermelho escuro, estruturado, clássico, imponente. Cabelos presos em um coque milimetricamente alinhado. Os olhos tão parecidos com os meus carregavam aquele mesmo olhar gélido e analítico que sempre me acompanhou durante toda a infância. Ela me observava como se fosse uma peça em avaliação. Não como filha. Mas como concorrente.

— Boa noite, Beatrice — disse ela, com um sorriso controlado nos lábios. Não era um cumprimento caloroso. Era mais um reconhecimento político, quase diplomático.

Levantei-me da cadeira, com a taça de champanhe ainda em mãos, mantendo meu próprio sorriso firme e equilibrado.

— Boa noite, mãe.

Por um instante, ficamos ali. Duas mulheres cercadas por luxo, olhares e história. Ninguém ousou se aproximar. Era como se o ar ao redor tivesse mudado, tornando-se espesso, tenso. Quase elétrico.

Ela ergueu uma sobrancelha, olhando em volta, analisando os empresários com quem eu conversava antes de sua chegada, e então pousou os olhos em mim novamente.

— Você causou um certo alvoroço esta noite. Há quem diga que é a mulher mais comentada do evento.

— E quem sou eu para desmentir? — respondi com ironia elegante. — O mercado sempre prestou atenção a quem tem algo novo a dizer. E algo sólido para entregar.

Ela riu baixo. Aquela risada leve, seca e perigosa, como quem afia uma faca enquanto te elogia.

— Sempre teve talento para as palavras. Mas ainda assim... é bom lembrar que reputações são construídas com tempo. E destruídas com precisão.

— De fato. Só que a Phoenix já nasceu preparada para ataques — retruquei. — E minha reputação, mãe, não depende mais do sobrenome D’Ambrosio. Ela se sustenta por méritos. Contratos. Resultados. Então fique tranquila.

Os olhos dela brilharam com algo entre irritação e admiração. Ela não esperava menos. E, talvez por isso, respeitasse mais do que gostaria de admitir.

— Tem razão. A Phoenix causou impacto. Mas não se esqueça: o mercado também é cíclico. Hoje você está no topo, amanhã... basta um pequeno erro. Uma brecha. Um descuido.

— E é por isso que não descanso, mesmo no topo. Foi o que aprendi observando seus métodos, lembra? — Inclinei levemente a cabeça. — Assistir você no comando por tantos anos me ensinou a jogar. Mas a diferença é que eu criei meu próprio tabuleiro.

Ela cruzou os braços, mas manteve a postura altiva.

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