O relógio de parede marcou o fim da nossa conversa antes mesmo que eu percebesse o tempo passar. Não que tivéssemos trocado palavras calorosas ou gestos afetuosos — aquilo não era a nossa natureza. Mas havia algo diferente pairando no ar, como se parte da muralha que separava mãe e filha tivesse sido derrubada, mesmo que apenas por alguns centímetros.
Levantei-me lentamente, e ela fez o mesmo. Ainda mantinha a postura ereta, o queixo erguido e os olhos frios, mas agora havia uma sombra ali. Um cansaço que não era físico, e sim da alma.
— Vou pedir ao meu motorista que a leve — disse, com aquele tom neutro que sempre usava para encerrar encontros.
— Não precisa. Jarbas me levará. — respondi, e ela sorriu de leve.
— Jarbas sempre foi fiel ao seu pai e, agora, a você. Isso é bom, já que os motoristas sabem mais da nossa vida do que nós mesmos.
Minha mãe acenou levemente com a cabeça e voltou a se sentar, como se já tivesse retornado ao mundo dos negócios. Por um momento, me perguntei se