Beatrice Marchesi
Ver meu reflexo nas lentes de uma câmera é diferente de encarar um espelho comum. O espelho reflete aquilo que você permite que veja. A lente, não. Ela captura o que escapa pelos olhos, o que se esconde nos silêncios, o que ninguém diz.
Theo, o fotógrafo, parecia entender isso bem demais.
Ele se movia ao meu redor com a leveza de quem conhece todos os ângulos da alma humana. E isso me incomodava mais do que eu queria admitir. Seu olhar não era o de um profissional registrando uma imagem — era o de um homem tentando decifrar um mistério.
Durante o ensaio, mantive a compostura. Postura ereta, queixo elevado, olhar firme. Tudo milimetricamente controlado. Mas houve um momento... Um clique específico... em que senti algo tremer dentro de mim. Como se aquela lente estivesse prestes a desenterrar uma versão de mim que eu jurava ter enterrado para sempre.
Depois da sessão, enquanto Laura preparava os materiais da entrevista, fiquei sozinha por alguns instantes. Observei-me