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Capítulo 6 – Fantasmas em Sofás de Veludo

O dia foi uma verdadeira correria. Trabalhei na Phoenix e tive algumas reuniões, inclusive uma com representantes do governo de Minas, que estavam ansiosos para ver nosso projeto funcionando. Depois de uma manhã exaustiva, chamei Elisa e fomos ao shopping encontrar com Lívia. Assim que chegamos, a encontramos na entrada.

— Vocês demoraram — ela reclamou, e eu revirei os olhos.

— Estávamos trabalhando, Liv. Vamos logo encontrar um vestido para a minha grande estreia.

Lívia sorriu animada e seguimos para uma loja de vestidos de grife. Minha amiga me mostrou alguns modelos, mas não gostei de nenhum. Depois da quinta loja, finalmente senti: o vestido estava lá, me esperando.

Longo, preto como uma noite sem estrelas, com uma fenda ousada que subia até a coxa e um decote elegante que insinuava sem revelar demais. O tecido se moldava ao corpo como uma segunda pele. Quando saí do provador, Elisa colocou a mão na boca.

— Beatrice... você está um absurdo! — exclamou.

— Esse vestido grita “eu sou a tempestade” — completou Lívia.

— É exatamente o que eu quero — respondi com um sorriso afiado. — Agora que encontrei o meu, escolham o de vocês também. Hoje é por minha conta.

Lívia me encarou de forma debochada, e eu sabia que ela ia fazer graça.

— Hum! Tem certeza de que quer gastar seu dinheiro? Você é tão tacanha...

A encarei com cara de poucos amigos, enquanto Elisa nos olhava confusa, sem entender onde aquilo ia parar.

— Desculpa, essa vaca está me chamando de pão-dura — expliquei, rindo.

Só então, traduzindo em inglês, Elisa entendeu.

— Você nunca foi pão-dura — disse ela, ainda surpresa.

— Lívia está apenas brincando comigo. Vamos parar com a conversa e escolham logo os vestidos de vocês.

As duas levaram cerca de quarenta minutos para decidirem. No final, compramos também bolsas e sapatos. Em seguida, fomos ao salão e depois a uma cafeteria para finalizar o dia. Quando cheguei em casa, enquanto guardava minhas compras, fui invadida por pensamentos sobre minha família.

Existe em mim um desejo enorme de me reaproximar deles. Mas o medo da minha mãe ainda é maior. Após o falecimento da minha avó, e depois de eu ter derrotado meu tio na disputa pela empresa, minha mãe se tornou a líder inquestionável da família. Com mãos de ferro, ela passou a comandar o grupo D’Ambrosio, a distribuir cargos, a decidir tudo. E eu? Eu fui banida.

Lembro claramente das suas últimas palavras:

“Você está banida da família. Agora está por sua conta. Boa sorte! E quando as coisas derem errado, não bata em minha porta, pois não te atenderei.”

Sinceramente? Não me arrependo de ter saído das asas da família para construir meu império. O que me arrependo, de verdade, foi ter caído na lábia de Leonardo e ter feito tudo por ele.

Acendi um cigarro e me servi de uma dose generosa de uísque hábito que aprendi com meu falecido pai. Dei um gole lento, sentindo a queimação descer pela garganta, enquanto a fumaça dançava no ar diante de mim. Era como se o passado se recusasse a me abandonar, mesmo agora, com o mundo a meus pés. Talvez seja isso que ninguém entenda: o sucesso não silencia os fantasmas. Ele apenas os acomoda em sofás mais caros.

Sentei-me na poltrona de couro marrom, de frente para a janela ampla da cobertura. A cidade lá embaixo cintilava, viva, alheia ao meu turbilhão. Apoiei o cotovelo no braço da cadeira e levei o cigarro de volta aos lábios. Fechei os olhos por um instante. As palavras da minha mãe ainda ecoavam como um tapa.

“Boa sorte! E quando as coisas derem errado, não bata em minha porta...”

E eu nunca bati. Nem quando o mundo desabou, nem quando Leonardo me traiu, nem quando a solidão doeu como uma faca enterrada nas costelas. Eu nunca voltei. Orgulho? Talvez. Ou talvez fosse a cicatriz invisível que ela deixou com aquela sentença  um corte fundo demais para ser costurado com palavras.

A verdade é que, por trás da armadura de CEO implacável, existe uma filha rejeitada. Uma mulher que não consegue se entregar a ninguém, que foge do amor porque teme sofrer tudo outra vez.

Soltei a fumaça devagar e me levantei, indo até o bar. Enchi outro copo e fui até a sacada. O vento da noite esfriava minha pele, mas não o calor que ardia dentro de mim uma pontada incômoda de arrependimento por não ter lutado mais na época, por apenas ter aceitado as coisas que me foram impostas.

Meu celular vibrou sobre a mesa lateral. Peguei o aparelho, esperando alguma mensagem do jurídico ou de Elisa, confirmando os horários do dia seguinte. Mas o nome que apareceu na tela fez meu estômago revirar: Leonardo.

"Bea... vi sua entrevista no Valor Econômico. Você está brilhando. Mas não se anime por muito tempo, pois passarei por cima de você como um rolo compressor. Você sabe muito bem que comigo não se deve brincar."

Dei uma risada seca. Típico dele. Sempre aparecendo quando percebia que eu estava por cima. Um parasita que só sobrevive da energia dos outros.

"Parece que minha empresa te incomoda? Relaxe, querido, tem espaço para todos. Na verdade, para os competentes... o que não é o seu caso."

Sorri com sarcasmo. Sabia que ele não responderia. Ou melhor, que não saberia como responder.

Joguei o cigarro no cinzeiro e fui para o quarto. Deitei-me na cama de linho egípcio, mas não fechei os olhos. Fiquei encarando o teto por longos minutos, deixando os pensamentos me atravessarem como lâminas silenciosas.

Amanhã resolveria os últimos detalhes para a inauguração oficial da nova sede da Phoenix no Brasil. Mas, antes disso, havia a festa de gala. Uma oportunidade estratégica para analisar os figurões antigos e novos. Eu estaria preparada.

E com o vestido certo, ninguém me impediria de brilhar.

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