(( Dante ))

A rotina na mansão voltou a caminhar com a mesma lentidão disfarçada de normalidade. Ninguém mencionava a madrugada em que Anna havia chorado sozinha, nem o nome sussurrado entre lágrimas, nem a dor que atravessava os olhos dela mesmo sob o sol da manhã. Mas eu via. Sentia. Estava atento aos detalhes que escapavam aos outros.

Não disse nada. Não diria.

Não fui feito para exigir verdades. Fui moldado para carregar as que me são confiadas, mesmo quando ninguém as entrega.

Nos dias que seguiram, permaneci próximo, como sempre estive. Mas agora havia um cuidado a mais. Uma escuta ainda mais apurada. E um olhar que não buscava respostas, apenas presença.

Não toquei no assunto. Não mudei os gestos. Mas dentro de mim, tudo havia se deslocado. A linha tênue entre proteger e sentir parecia prestes a se romper.

Ela vinha para o café e nossos olhares se cruzavam por um segundo mais longo. Eu desviava primeiro. Mas antes disso, r