(( Dante ))
A madrugada avançava devagar, densa como um segredo não contado. No silêncio do meu quarto, tudo parecia mais pesado até a respiração. A mansão dormia, mas dentro de mim algo estava desperto, inquieto, quase desesperado. Ainda conseguia ouvir a voz de Anna, sussurrando no escuro, o timbre trêmulo de quem carrega um medo que não quer nomear."Ela tinha os olhos de Dante."Essas palavras ainda martelavam em minha cabeça como um sino lento, compassado, cruel. Eu não pretendia ouvir. Não naquela hora. Não daquele jeito. Mas ouvi.Encostei a testa contra a janela fria, tentando encontrar paz no céu escuro. Não havia estrelas. Apenas a lembrança de um corpo, e de momentos roubados entre nós dois que eu jurei enterrar, por ela, por mim, por Enzo.Anna.Ela foi o começo e, talvez, o fim de tudo para mim. Desde o instante em que a vi, soube que o chão sob meus pés nunca mais seria o mesmo. O problema foi que o coração dela sem