O som dos meus passos ecoava pelo corredor como se cada pisada me lembrasse de que eu estava sozinha ou, pelo menos, deveria estar. O colar ainda pesava no meu pescoço, mas era o papel dentro dele que me afundava.
Como se o passado pedisse clemência por algo que nem mesmo se deu ao trabalho de me contar. Vi Dante de costas, na varanda lateral da casa, o vento bagunçando os fios escuros de seu cabelo. Ele estava imóvel, as mãos apoiadas na mureta de pedra, olhando para o céu como se encontrasse ali uma resposta que ninguém mais podia ouvir. Me aproximei. Não falei seu nome. Não tossi. Só parei ao lado dele e esperei. Ele percebeu minha presença, claro. Seus ombros se contraíram levemente, mas ele não se virou. — Você sabia, não é? — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro. Ele não perguntou “sobre o quê”. Só fechou os olhos, como quem recebe um golpe que já esperava. — Não tudo —