A Herança da Poeira
O casarão dos Vasconcellos parecia mais vivo do que nunca.
Era como se cada ranger de madeira, cada rajada de vento que atravessava as janelas semi abertas, estivesse sussurrando o que foi esquecido.
Ana Luísa parou diante da entrada principal, a chave em mãos, o coração pesando como uma pedra no peito.
A madeira da porta, marcada por veios escuros e lascas do tempo, exalava um cheiro agridoce de verniz antigo e memórias guardadas à força.
Ao girar a chave, o trinco cedeu com um estalo seco, e ela empurrou com cuidado.
A luz do fim de tarde invadiu o hall, revelando camadas de poeira que dançavam no ar como fragmentos do passado.
Tapetes enrolados nos cantos, móveis cobertos por lençóis amarelados, quadros inclinados nas paredes que já haviam visto gerações nascerem e caírem.
Ana atravessou o salão principal com passos contidos.
Seus dedos roçavam o encosto de uma cadeira de balanço antiga, e cada contato parecia uma invocação.
Ao chegar à bibliote