As Margens do Silêncio
A chuva fina tamborilava no telhado do casarão como se também quisesse contar uma história.
Ana Luísa acordou com os olhos pesados, mas a mente inquieta.
A casa parecia respirar um ar diferente desde que ela encontrara o caderno do bisavô de seu tio-avô.
A atmosfera carregada, densa de lembranças, invadia cada cômodo.
O cheiro de madeira molhada misturava-se ao perfume antigo dos livros que ela mantinha agora empilhados no escritório.
Na cozinha, o fogão a lenha ainda guardava o calor da noite anterior.
Ana passou os dedos pelo tampo da mesa de madeira de peroba, onde rabiscava suas anotações entre goles de café morno.
Rafael ainda não havia descido.
No andar de cima, os passos dele soavam suaves, como se caminhasse com cuidado para não acordar fantasmas.
Decidiu que era hora de retornar ao porão.
Pegou a lanterna e desceu novamente os degraus que agora pareciam mais familiares.
Umidade impregnava as paredes, e o cheiro de ferrugem