Rastros de Cinzas
Naquela noite, o casarão parecia respirar com mais intensidade.
As paredes antigas exalavam umidade e memórias, como se acompanhassem cada passo de Ana Luísa pelos corredores silenciosos.
No andar de cima, Rafael dormia em sono leve, inquieto desde que seu carro fora incendiado. O cheiro de fumaça ainda impregnava a varanda, como um lembrete tátil da ameaça que se concretizara.
Ana estava no escritório, cercada por pilhas de documentos e a luminária nova acesa, lançando uma luz suave sobre os papéis espalhados.
O gravador tocava a fita que assistiram mais cedo, enquanto ela anotava cada nome, cada data, cada frase.
As imagens da fita VHS ainda queimavam em sua memória: seu tio-avô, o ex-prefeito, o pai de Rafael.
Todos reunidos em segredo, trocando frases cifradas sobre contratos, silêncios comprados e o medo de que a verdade viesse à tona.
Ela pausou a fita num ponto específico. A câmera tremia e, ao fundo, se ouvia:
"Ele está nos ouvindo. Isso precisa