Capítulo 4 — O SILÊNCIO DO SIM

O som abafado de aplausos e de uma música solene de órgão vazou pelas frestas da porta da igreja. Kai fechou os olhos. Conseguiu distinguir a melodia. Era a mesma que sua avó tocava no piano velho dela. Uma música de fim.

Dentro, Isla já não chorava. As lágrimas tinham secado, deixando apenas um salgado ardente nos cantos dos olhos e a maquiagem destruída.

Ela estava de pé, rígida, ao lado de Ezra Atlas. Suas mãos, dentro das luvas de renda branca e fina, estavam geladas. Por um instante, através do vitral colorido que mostrava um santo de olhos tristes, ela viu a silhueta de Kai. Parada.

E depois, desaparecendo como uma sombra quando o sol se move. Algo dentro de seu peito rachou. Não foi dramático. Foi um estalo seco, interno, como o de um galho sob o peso da neve.

Eu falhei com ele, pensou, e o pensamento era um diagnóstico clínico, sem emoção. Falhei em ser forte o bastante para salvar a empresa sozinha.

Falhei em ser corajosa o bastante para sumir sem olhar para trás. Falhei em ser a herdeira que o pai precisava, e falhei em ser a mulher que ele merecia. Falhei em tudo.

Ezra se moveu ao seu lado, um deslocamento quase imperceptível que trouxe consigo uma onda discreta de seu perfume – algo caro, amadeirado, impessoal. Ele se inclinou, e seu hálito quente tocou a curva de sua orelha.

"Eu não tirei você dele," sussurrou, e sua voz não era cruel. Era lógica, clara, como a explicação de um teorema matemático. "O mundo fez isso. As dívidas do seu pai fizeram. O contrato que ele assinou com as próprias mãos, para salvar o que restava, fez."

Isla não respondeu. Seu olhar estava fixo nas mãos do padre, mãos idosas e nodosas que seguravam uma Bíblia de capa desgastada.

"Homens como ele," Ezra continuou, e havia uma pitada de algo que poderia ser pena em sua voz calma, "amam com o coração. É bonito. É puro. É poesia. Mas o coração, minha querida, não assina cheques. Não honra acordos de empréstimo. Não paga salários no fim do mês para quinhentas famílias."

Ele fez uma pausa calculada, deixando o peso das palavras assentar como uma poeira fina sobre ela.

"Homens como eu…" ele parou, e ela sentiu o peso de seu olhar cinza percorrendo seu perfil, "mantêm o que é seu. Protegem seus investimentos. E custe o que custar, garantem que um acordo seja cumprido."

O padre, um homem de cabelos brancos e olhos bondosos, olhou para ela. Em seu olhar, Isla viu um pedido de desculpas silencioso, a resignação de quem já viu muitas transações serem abençoadas sob um teto sagrado.

"Isla Morgan," sua voz era trêmula, mas clara, "você aceita Ezra Atlas como seu legítimo esposo, para amá-lo e honrá-lo, na saúde e na doença, até que a morte os separe?"

O silêncio que tomou conta da igreja foi absoluto, denso. Isla sentiu o aperto na mão de Ezra aumentar. Não era um gesto de carinho ou apoio. Era um lembrete de aço. Uma correia. Uma das muitas que a prendiam agora.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App