Ela sentou, com o maxilar travado. Ele empurrou a pasta com as fotos até ela.
— Reconhece? — Isso é invasão de privacidade. — É proteção. Do meu filho. E agora... talvez sua também. Ela franziu o cenho. — Investigamos sua vida. Sabemos de tudo. Seu histórico, sua família, sua ambição. Você é inteligente. E ousada. Exatamente o que preciso. — O que está tentando fazer? Ares cruzou os dedos sobre a mesa. Olhou-a como um homem que negociava com ações valiosas. — Quero que se torne noiva de Eros Thorne. Ela soltou um riso curto. — Está brincando? — Estou propondo um acordo. Você se tornará oficialmente a noiva dele. Em troca, terá estabilidade, influência e minha proteção... desde que saiba manter Eros focado onde eu preciso. Ele precisa de você, de certeza que pode mantê-lo ocupado e longe de qualquer merda que possa criar. Isso o torna vulnerável. E... útil. Harper o olhou, entre o choque e a incredulidade. — E se eu disser não? — Então, as fotos... vazam. Eros não perderá muito, quase nada. Mas…você, pode perder tudo. Silêncio. — Pense bem, senhorita Harris. Às vezes, o poder começa com um "sim" inesperado. Sentada na ponta da cama de Emília, com as pernas encolhidas e o cabelo preso de qualquer jeito, Harper girava o cartão preto com letras douradas entre os dedos. O nome “Ares Thorne” brilhava sob a luz suave do abajur. A casa estava silenciosa. Emília tomava banho, alheia ao turbilhão que se formava dentro da amiga. Harper encarava o pequeno retângulo como se ele tivesse o poder de mudar tudo — e no fundo, ela sabia que tinha. A proposta era absurda. Escandalosa. Irreal. E ainda assim... tentadora. Ela se deitou devagar, sem desgrudar os olhos do cartão. O teto parecia distante demais para oferecer alguma resposta. Mas as palavras dele ecoavam como uma oferta indecente envolta em luxo: "Estabilidade. Influência. Proteção. Tudo seu, se souber jogar." Ela bufou, rindo sozinha. — Noiva de Eros Thorne... — sussurrou. Uma parte dela queria rasgar o cartão, a outra... queria ligar agora mesmo. Afinal, até onde estava disposta a ir por si mesma? Na manhã seguinte, Harper estava no estúdio, conferindo cabides, organizando acessórios e montando combinações no manequim com movimentos automáticos. Seu corpo estava ali, mas a mente vagava por lugares distantes — mais precisamente, dentro de um carro preto com vidros escuros e uma proposta que parecia cena de filme. Simon passou por ela duas vezes, observando com o canto do olho. A habitual agilidade e brilho em suas ideias estavam apagados. Ela estava dispersa, calada demais para seu padrão. — O que houve? — chegou a perguntar a Júlia em voz baixa. — Talvez o que Mila fez ontem — respondeu a assistente, dando de ombros. Simon apenas assentiu. Por mais que sua vontade fosse confrontar Harper e fazê-la falar, algo o impediu. Talvez respeito. Ou talvez medo de se importar mais do que devia. Mas uma coisa ele percebeu: havia algo por trás daquele silêncio. E não era só o café derramado. A semana passou num piscar. Eros, mesmo imerso em reuniões, eventos e telefonemas, não conseguia se livrar da imagem dela. Harper. Era só isso que sabia. O primeiro nome e o gosto por lingeries vermelhas e perfumes com notas doces e perigosas. Na sexta-feira, West entrou em sua sala segurando uma caixinha de veludo preto. — A pulseira de jade, senhor. A joalheria conseguiu restaurar sem danos visíveis. Eros ergueu os olhos, intrigado por um segundo, até que a memória veio como um soco leve no estômago. A pulseira que ela lhe deu aquela noite. A mesma que caiu da bolsa dela quando Mila, na pressa esbarrou nela ao entrar no prédio pela porta sem nem olhar para trás. — É você—sussurrou. Pegou a peça nas mãos, girando-a entre os dedos. Reconheceu a peça e o peso do silêncio que ela deixou. — Harper… — murmurou, quase num sussurro. West o olhou com curiosidade, mas não perguntou nada. Eros fechou a caixinha. Agora ele tinha uma pista. E sabia exatamente como iria usá-la. O jantar seguia tranquilo, Mila falava animadamente sobre a nova campanha publicitária que havia fechado. Eros, porém, parecia mais interessado no copo em sua mão do que nas palavras dela. Foi quando ele lembrou, que Mila, poderia conhecer, a dona da pulseira de jade. — Aquela pulseira... — comentou com descaso, como se mal se importasse —quem era a garota que você esbarrou? Mila revirou os olhos com impaciência. — Ah, aquela? Da estilista do Simon. Harper, acho. Foi dramática demais por uma bijuteria velha. Ele manteve o olhar fixo, e por pouco não deixou escapar um sorriso. — Estilista, é? — Sim, dessas que montam looks e acham que entendem de moda. Trabalha no estúdio como assistente, sei lá. Por quê? — Por nada — disse ele, voltando a olhar para o vinho. Mas por dentro, já havia tomado uma decisão. Amanhã cedo, passaria no estúdio. Não era curiosidade. Era necessidade. Na mesma noite, embora Mila estivesse deitada ao seu lado, com o corpo colado ao dele e a respiração tranquila, era outro perfume que Eros buscava — suave, provocante, levemente adocicado. O aroma de Harper ainda pairava em sua memória, como se estivesse impregnado nos lençóis, na pele, nas paredes daquele quarto que, até então, nunca conhecera desejo real. Seu braço repousava sob a cintura de Mila, mas o toque não dizia nada. Era a pele de Harper que sua mente recordava — lisa, quente, com o gosto de proibição e liberdade misturados. A forma como ela havia dominado seus sentidos ainda latejava dentro dele. Eros virou-se lentamente, afastando-se de Mila, que nem se mexeu. O quarto escuro recebia apenas frestas de luz pelas cortinas pesadas. Ele tentou voltar a dormir, mas o corpo parecia inquieto, como se o inconsciente quisesse mais do que lembranças. E então veio o sonho. Harper, vestida apenas com a lingerie vermelha da última noite, se aproximava dele no corredor de um lugar que não reconhecia, mas que parecia familiar. O olhar firme, a boca entreaberta, e os dedos deslizando por sua pele como se soubessem exatamente onde tocar. Ele não conseguia falar, só sentir. Quando abriu os olhos, ainda ofegante, já eram quase meio-dia. Mila continuava dormindo. Mas ele... ele acordara faminto — não por comida, mas por Harper. Mila ajeitava os cabelos diante do espelho do camarim quando Eros apareceu na porta, com um leve sorriso e os braços cruzados. — O que está fazendo aqui? — ela perguntou, surpresa, mas com um brilho satisfeito nos olhos. — Vim cuidar do que é meu — respondeu, entrando como se o lugar fosse seu. — Achei que devia ver de perto o investimento em ação. Ela riu, deslizando as mãos pela cintura fina, claramente adorando a atenção. — Não sabia que tinha interesse no meu trabalho agora. — Só acho que, às vezes, o que é valioso merece ser observado de perto. Por trás do charme, ele estava inquieto. A mente longe. Os olhos até miravam Mila, mas o pensamento... era dominado por outra silhueta. Outra mulher. Eros se sentou de lado, de onde podia ver o set inteiro. A sessão começou, Mila posava com segurança, sensualidade e precisão. Mas tudo parecia... vazio. Faltava verdade naqueles flashes. Faltava Harper. Ele observava, sim. Mas não como antes. Não com desejo. Era como olhar para uma peça bonita numa vitrine: valiosa, mas impessoal. Harper entrou apressada no set, os olhos presos no tablet com as anotações dos looks do dia. O cabelo solto balançava nos ombros, e o vestido justo, em um tom vinho profundo, moldava seu corpo com perfeição. Os saltos ecoaram discretamente no estúdio silencioso, mas a atenção de Eros foi imediatamente capturada.