Mudanças sempre acarretam sensações estranhas, encaixar-se em um novo ambiente tende a ser difícil, especialmente quando se encontra algo que não deveria existir em seu novo quarto. Era exatamente isso que atormentava a jovem Sarah ao depara-se com um espectro sombrio fitando-a com intensidade, e depois de ser taxada de esquizofrênica acaba por buscar respostas por conta própria. Porém, sua procura desencadeará uma série de problemas a sua vida pois, os segredos enterrados de toda aquela comunidade começaram a vir à tona. E comunidades isoladas podem ter muitos segredos sombrios...
Ler maisOs últimos raios solares desapareciam no horizonte, lentamente dando lugar à escuridão da noite, que trazia consigo meus maiores temores. Respirei fundo ao passo que minha mão empurrava a pesada porta de mogno, antiga e imponente, como tudo naquela grande casa, e a vi abrindo com um rangido tão sombrio que arrepiou todos os pelos dos meus braços. A verdade era que aquele lugar era naturalmente assustador devido ao clima pesado em volta dele.
Tranquei a porta, acendi as luzes fluorescentes, e caminhei pelos corredores que rangiam a cada passo incerto sobre o piso de madeira polida. A casa estava silenciosa, como se zombasse dos meus medos, ergui os olhos em direção à longa escadaria que, de repente, parecia maior do que o habitual, e suspirei seguindo meu caminho, tentando ao máximo não fazer barulho.
Quando finalmente entrei no meu quarto, girei nos calcanhares, trancando a porta às minhas costas e tateei a parede procurando pelo interruptor enquanto meus olhos se dirigiam imediatamente ao canto próximo do guarda-roupas, onde, sob a penumbra e como esperado, "ela" estava, no mesmo exato lugar em que me lembrava de tê-la visto desde a primeira vez anos antes.
"Ela" estava no canto esquerdo do quarto, sob a janela que não mais abria, sentada com a cabeça inclinada, usando a parede para se apoiar, seus longos cabelos negros escorrendo por seu corpo magro, coberto por uma camisola fantasmagoricamente branca, assim como sua pele. Seus olhos tingidos de sangue, atentos a cada passo que eu dava dentro do cômodo, eram tão escuros quanto suas madeixas e pareciam presos em lembranças antigas.
Nos mudamos para aquele antigo casarão construído numa pequena ilha quando eu tinha acabado de completar treze anos, ainda cicatrizava os machucados nos joelhos, causados pelas incontáveis quedas enquanto aprendia a pedalar com meu pai e começava a me acostumar ao novo visual sem o aparelho odontológico. Meu pai recebera uma grande proposta para a construção de um shopping e como sua empreiteira estava quase falindo, acabamos por nos mudar, abandonando minha antiga escola e amigos, assim como o trabalho de recepcionista da minha mãe. A ilha de Ainu era realmente pequena, sendo difícil de encontrar em mapas comuns, mas que curiosamente, começou a receber uma considerável quantidade de turistas desde a década de cinquenta.
Éramos estranhos naquele novo lugar e obviamente, a adaptação levou algum tempo para acontecer, o ambiente era muito diferente e os planos do meu pai estavam sendo trabalhosos devido à dificuldade em achar mão de obra qualificada na ilha e a relutância dos antigos funcionários em mudar-se para “o meio do nada”, logo, a construção acabou por demorar muito mais do que meus pais esperavam, e minhas esperanças de retornar ao continente se esvaíram.
A dificuldade em fazer amigos me tornou uma criança solitária, que passava os dias trancada em casa ou sentada na varanda observando os jardins dos vizinhos enquanto questionava quais segredos estariam escondidos em seus porões. Foi nesse momento, que passei a buscar os motivos para aquele espectro estar apegado à nossa casa, e sendo uma criança, pouco sabia sobre espiritualidade, mas tinha noção de que algo estava muito errado para aquela moça não ter passado para o outro lado ainda.
Cinco longos anos haviam se passado, e nunca ouvi sua voz, ainda que vez ou outra, eu tomasse coragem de puxar assunto, tentando entendê-la, mas nunca houve resposta. Era assustador estar tão mergulhada na ignorância, e não ter tranquilidade em momento nenhum na minha vida desde a mudança era doloroso. Porém, hoje, sinceramente não sei se isso é bom ou ruim.
Depois de alguma relutância, inquieta com suas reações, finalmente criei coragem e contei aos meus pais sobre aquela estranha visão. Fui olhada com tanta preocupação que até achei que estivesse recebendo algum tipo de credibilidade, mas duas semanas depois estava sendo levada a um psicólogo com suspeitas de esquizofrenia e sendo transferida para uma psiquiatra que me daria prescrições de ansiolíticos.
Quem chega à conclusão de que a filha tem esquizofrenia em apenas uma conversa?
Assim como meus pais, o psicólogo lançava-me olhares penosos como se acreditasse que eu realmente fosse louca, o que me fazia ter uma vontade absurda de gritar com todos eles. Mas sendo uma criança, apenas chorava e balançava levemente no divã, o que acredito ter passado uma imagem catatônica de mim. No fim, as consultas não me ajudaram em nada naquele quesito pois, eu continuava vendo a mulher da parede, como inocentemente a apelidei, visto que não sabia seu nome.
O efeito dos medicamentos era brutal ao meu corpo ainda em formação, meu desenvolvimento estava estranho e meu humor horrível, então depois, de algum tempo, comecei a montar um plano para me desvincular daquela situação. Meu primeiro passo contra isso foi mentir, comecei a dizer que não a via mais e que acreditava que ela era apenas uma infantilidade criada pela minha mente solitária de filha única, frases que eu sabia ser o que eles queriam ouvir. E o motivo? Não aguentava mais ouvir o psicólogo dizer que eu a havia criado e que os medicamentos seriam modificados caso não houvesse avanços novamente, me fazendo temer ser internada em um hospício.
Hoje, aos 17 anos, posso dizer que me acostumei à sua presença e não tenho mais tanto medo como no início, podendo "conviver" com ela quase normalmente. Aos poucos, a adaptação me possibilitou ter uma vida normal, com alguns poucos amigos e paqueras que me deixavam feliz, e não precisava mais tomar os medicamentos que apenas me deixavam sonolenta. Contudo, a curiosidade e a constante presença da mulher da parede, fazia com que eu continuasse me questionando sobre seu estranho caso. E depois de muito pedir, minha mãe concordou em conversar com o corretor sobre o passado daquela casa.
A verdade era que pouco se sabia a respeito, e o homem inclusive não entendeu o porquê dos nossos questionamentos, mas depois de algum tempo, acabou por nos dizer o pouco que sabia sobre a casa, e sobre algumas fotos dos antigos moradores que encontrou. Ao vê-las, meus joelhos tremeram enfraquecidos, pois em uma das fotos de família, havia uma mulher extremamente parecida com a mulher da parede, não sabíamos como havia morrido ou seu nome, apenas que viveu ali como governanta e cuidadora dos filhos dos donos do casarão. Porém, eu não comentei sobre essa descoberta com ninguém, ainda mais porque, aparentemente, eu já havia superado minha suposta infantilidade, logo, tocar no assunto, apenas faria com que minha mentira fosse descoberta.
Sai de meus devaneios ao acender a luz do teto, piscando algumas vezes antes de iluminar todo o quarto, voltei meus olhos novamente à mulher da parede e notei que o canto estava vazio. Curiosamente, ela só aparecia no escuro da noite e para a minha infelicidade, só eu a via, como já era de se esperar. Começo a pensar que eu quem sou muito azarada e acabo atraindo esse tipo de coisa para a minha vida, e pior, para minha família.
Fui até o banheiro e tomei um banho longo, relaxando os músculos tensos por um dia longo de estudos e trabalho, sem contar o constante peso das energias daquela cidade. Deitei-me na cama, usando uma camisola confortável e fiquei um tempo mexendo no celular, respondendo as mensagens de alguns colegas de classe. Quando fui dormir, algumas horas depois, olhei para o interruptor, mas não tive coragem de apagar a luz pois, sabia que ela voltaria e naquela noite, eu estava especialmente assustada por causa dos relatos de assassinatos recentes na ilha.
Uma súbita vontade de rir me tomou ao perceber que estava comparando aqueles dois tipos de perigo, um fantasma não me machucaria, diferente de um assassino em série que inclusive, a polícia ainda não havia conseguido encontrar. E sendo uma garota em idade escolar, meus pais ficavam ainda mais ansiosos e superprotetores. Chequei novamente a janela, observando as ruas vazias, e voltei para a cama, alongando meus músculos que voltaram a ficar tensos, aquela claramente seria mais uma noite de insônia.
Deitei-me, abraçando os travesseiros que cheiravam a limpeza e tentei descansar, dormindo parte da noite com as luzes acesas, uma chuva fina caia sobre o telhado, praticamente me embalando em uma canção de ninar. Mas dormi pouco, acordando assustada algumas horas depois quando os relâmpagos causaram uma queda brusca de energia e tudo ficou na escuridão.
Sentei no colchão olhando ao redor com apreensão, evitando fitar o canto em que "ela" sempre estava sentada e procurei pelo celular, achando-o no criado-mudo ao lado da cama. A lanterna era quase inútil em meio àquele breu, mas iluminava fracamente a penumbra do quarto, me dando uma ilusão de segurança.
De repente, uma espécie de respiração lentamente chamou a minha atenção, vinha do canto próximo a janela e eu sabia que aquele barulho estava sendo feito por "ela". Era um som estranho que eu nunca havia ouvido, era parecido com o som feito pela traqueia quando o ar não consegue passar, um ruído que duvido ser possível de ser reproduzido por qualquer animal ou humano normal.
Respirei fundo, tomando coragem e voltei minha atenção à mulher da parede, sentindo uma súbita vontade de perguntar porque só eu a via, ou porque ela estava presa naquela casa como se a culpa da insônia e a queda de energia fosse dela. Ergui a lanterna com as mãos trêmulas e pude observar com cuidado sua silhueta, como nunca tive coragem de fazer antes, uma vez que, sempre que estávamos no mesmo cômodo, ainda sentia vontade de gritar ou chorar.
Seus olhos me seguiam em cada movimento que eu fazia, arregalados e com grandes manchas vermelhas ao redor da íris. Uma de suas mãos pálidas repousava sobre o tecido branco, meus olhos recaíram sobre ela e notei que quase não havia unhas e a pele estava esfolada como se tivesse tentado cavar algo. De repente, percebi que sua boca estava firmemente fechada, como se tivesse sido costurada, mas não havia pontos ou sangue nela. O que me fez questionar se seria uma escolha sua em vida.
– Q-quem é você? - gaguejei em um sussurro, tomando coragem de me aproximar minimamente, me agachando a sua frente e nossos olhos se encontraram. – Porque está aqui? Porque só eu te vejo?
Novamente não houve resposta.
Levantei-me e caminhei lentamente até me agachar diante dela, tão próxima que pude observá-la mais nitidamente. Seus olhos eram grandes e castanhos, não pretos como imaginei, sua boca estava pálida, mas parecia estar suja de um batom recém retirado.
Era o espectro de uma mulher que viveu naquele mesmo quarto em tempos remotos. Numa olhada mais minuciosa dava para ver que era jovem e bonita, devia ter uns trinta anos quando morreu, e por estar vestida em uma camisola, me fazia supor que foi assassinada enquanto dormia. Porém, o que mais chamou a minha atenção eram as grandes marcas arroxeadas de dedos ao redor de seu pescoço e pulsos, me fazendo questionar quem havia a assassinado.
O que fizera para receber tanto ódio?
Não havia registros de sua morte, o que me fazia pensar que provavelmente foi encoberta por pessoas muito poderosas que estavam envolvidas de alguma forma. E logo, lembrei novamente das manchetes no jornal matutino, falando sobre uma moça encontrada estrangulada no bosque próximo ao parque, e de forma inconsciente, acabei associando as duas.
– Você morava nessa casa? - tornei a perguntar, sentindo uma estranha compaixão por aquela mulher, que parecia ter sofrido muito antes de morrer, mas ela continuava em silêncio, apenas olhando-me. – Diga-me algo, por favor!
Foi nesse momento que senti o clima esfriar ao meu redor e um arrepio subiu por minha coluna novamente, ela continuava me encarando, porém, logo percebi que, na verdade, seus olhos arregalados pareciam estar fixos em algo atrás de mim, e aos poucos, sua expressão neutra deu lugar a um semblante de medo e sua boca abriu-se em um grito mudo, me fazendo questionar o que seria tão aterrorizante para assustar um espectro.
Virei lentamente, sentindo os músculos enrijecidos pelo medo e deparei-me com uma figura assustadora, sombria e gigantesca, me fitando com um sorriso sádico. Um outro raio caiu, irrompendo pelo vidro da janela e iluminando o quarto, dando-me a visão perfeita de sua silhueta esguia e aparentemente masculina. Mesmo na escuridão, ainda podia ver seus olhos enegrecidos e os lábios contorcidos.
– Então era aqui que você estava, minha querida!
Sarah…Pensei muito sobre a vida enquanto Felipe estava internado no hospital, foram quase dois meses em coma induzido que mais pareceram uma eternidade, Karen chorava baixinho debruçada sobre seu leito todos os dias, e variadas memórias me vinham à mente sempre que a via assim, lembrei de quando eu mesma achei que perderia a vida e de alguma forma me senti mais próxima do meu afiliado, agora tínhamos isso em comum.Felizmente não havia mais risco de vida, porém, ele acabou perdendo os exames para vestibular, não havia muito o que fazer em seu caso, mas consegui convencer Cecília a fazer, ela ainda estava angustiada por causa do seu estado, mas conseguiu até uma pontuação razoável e poderia iniciar a graduação no semestre seguinte.Seu sonho de tornar-se uma detetive ainda estava em curso, mas sugerimos que tentasse estudar as duas áreas pois, seria mais eficiente caso mudasse de ideia a respeito de alguma delas, e deixei claro que não a impediríamos de desistir da graduação, se a voca
– Cecília, eu preciso sair por alguns minutos! – exclamei tropeçando nas palavras, tentando não a assustar muito, mas estava realmente difícil no meu estado de nervosismo, e praticamente fugi sem responder suas perguntas.Enquanto caminhávamos pelas ruas, um flashback de tudo o que aconteceu na noite em que nos drogamos juntos passou pela minha mente, lembrei-me de Alice sentada em meu colo, mas o resto era apenas um borrão negro até o momento em que machuquei o pé na mesinha algum tempo antes de presenciar o tiroteio.Ralf agarrou o meu braço, arrastando-me rumo a uma clínica a primeira clinica que apareceu à sua frente, sequer sabíamos se era especializada em fazer exames para vírus contagiosos, ou os devidos procedimentos caso estivéssemos infectados.Assim que entramos, fizemos as fichas para aumentar o meu desespero, não havia exames marcados para aquele horário, e rapidamente formos atendidos, mas quase não tive compostura para entrar na sala de hemogramas sem tremer como um chih
Depois daquelas revelações bruscas, marquei a próxima consulta com a psicoterapeuta e tentei retomar meus estudos com mais afinco, focando em algo concreto antes que começasse a confundir a realidade novamente, imaginando que seria apenas o que faltava para me enlouquecer de verdade caso precisasse lidar além do processo de abstinência, com uma doença psiquiátrica.A expressão de surpresa no rosto da terapeuta quando contei toda a história era impagável, ela parecia prestes a pedir uma pausa em meio a aquele louco imbricamento de situações dramáticas que mais parecia uma novela mexicana, isso porque eu sequer havia contado as partes mais tendenciosas, omitindo o fato de que boa parte da minha família via espíritos.Ela concordava com os meus pais, julgando que havia uma possibilidade de ter ouvido aquelas histórias que parcialmente continham situações danosas, e mesmo que eu não me lembrasse de nada em específico, acreditava quando ela dizia que poderia ser alguma informação que ficou
FelipeNos dias que se passaram após aquele incidente, as palavras de Ayla ainda ecoavam em minha mente, causando desagradáveis noites insones, nas quais questionava-me a respeito dos fatos que ocorriam em minha vida, as vozes, as crises, eram situações que me deixavam confuso quanto ao que podia ser fantasias da minha mente, e pior, sequer podiam ser explicados pela espiritualidade.Mas se eram coisas da minha cabeça, então porque sentia-me assim?Eu não queria contar sobre aquela situação aos meus pais, muito menos aos meus padrinhos, mas logo percebi que estava fora da minha capacidade de escolha, então, depois de alguma relutância, fui arrastado para a sala de estar onde todos esperavam sentados ao redor da mesinha ovalada. E novamente eu era o centro das atenções, mas não estava gostando nenhum pouco disso.– Parece que teremos que contar a verdade afinal... – ouvi minha mãe sussurrando com apreensão, sua voz estava entrecortada e parecia incerta do que estava me dizendo. – Eu nun
— Ayla, socorro! Me ajuda! – ela pediu sufocando quase sem ar, suas mãos tateavam o próprio pescoço em desespero, tentando se desvencilhar do que quer que estivesse aprendendo.Quando a mim, olhava ao redor, chorando sem saber o que fazer, tentei lembrar de algumas orações, pensando nas palavras da minha mãe e embolando os trechos, engasgando em meu próprio choro a cada grito dela.Ouvi passos se aproximando e quando me virei, notei que eram os rapazes, seus olhos arregalados, igualmente descrentes, caminhavam de um lado para o outro, procurando por algo que pudessem usar para ajudar a moça que tossia quase sem ar, tentando soltá-la.— Ela não está presa, está sendo sufocada... – sussurrei ignorando o medo do que eles poderiam pensar sobre mim depois de ouvir aquilo.Allen ficou estático por alguns instantes, incrédulo, mas rapidamente começou a tentar puxá-la novamente, sussurrando questionamentos que imaginei serem destinados ao espírito, continuei orando, pedindo pela nossa proteçã
AylaNão havia palavras possíveis para descrever a sensação de finalmente poder dirigir tão livremente e com a permissão dos meus pais, suspirei sentindo a brisa fria bater em meu rosto, balançando meus cabelos e sorri, enquanto estacionava com cuidado numa das vagas disponíveis no estacionamento da editora, minha mãe pegou a grande bolsa de couro preto e ergueu o rosto fitando-me com um sorriso, despedindo-se antes de seguir seu caminho.No caminho para o colégio, o radialista explicava sobre uma forte tempestade que se aproximava, aparentemente, havia a possibilidade de desabar um temporal sobre as nossas cabeças a qualquer momento, mas não pensei muito a respeito, um congestionamento começava a se forma à minha frente e precisava me apressar para não perder a primeira aula.Quando parei em frente ao gigantesco colégio preparatório, me deparei com uma cena um tanto inusitada, Felipe estava parado em frente aos portões conversando com Allen, havia um pequeno monte de folhas ofício em
Último capítulo