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4 - Aceitando meu novo status como mercadoria

CAMILA NOGUEIRA

Voltar para a casa dos meus pais foi menos humilhante do que imaginei. O café da manhã do dia seguinte foi silencioso. Meus pais me olhavam com alívio e medo de que eu mudasse de opinião. Eles não fizeram perguntas sobre por que voltei atrás, e eu não ofereci nenhuma explicação. O acordo tácito era que o nome “Felipe” jamais seria pronunciado novamente naquela casa.

Depois da minha ligação na noite anterior, meu pai apenas disse que marcaria uma reunião com Arthur. Eu o interrompi. “Não, pai. Eu mesma vou.”

Se era para eu ser o sacrifício, eu mesma me entregaria no altar.

O prédio da Vasconcelos Corp era um monstro de vidro e aço que perfurava o céu, e fazia todo o resto da cidade parecer pequeno. Enquanto eu subia pelo elevador panorâmico, sentia os olhares dos executivos sobre mim, tentando adivinhar quem era a garota que tinha uma reunião marcada no último andar, o Olimpo onde habitava Arthur Vasconcelos. Respirei fundo e segui até a mesa da secretária.

Ela me anunciou e abriu a porta do escritório para mim. Entrei e lá estava ele, sentado atrás de uma mesa de vidro tão grande que parecia uma pista de pouso.

Arthur Vasconcelos não se levantou.

Ele apenas ergueu os olhos do laptop e me analisou enquanto eu atravessava o que pareceu um quilômetro de carpete cinza. De longe, eu já podia ver que ele era bonito. De perto, era devastador.

O cabelo era escuro e cortado de forma que não parecia grande, nem pequeno, o maxilar era forte e a barba por fazer lhe deixava charmoso. Os lábios eram atraentes, mesmo que parecessem não sorrir há anos. Ele usava um terno cinza-escuro que parecia ter sido costurado em seu corpo, realçando os ombros largos. Mas foram os olhos que me prenderam. Eram de um cinza tempestuoso, e me olhavam de um jeito intimidador. Ele era, sem dúvida, o homem mais bonito que eu já tinha visto.

— Senhorita Nogueira — ele disse, a voz grave e neutra, fazendo um gesto em direção à cadeira à sua frente. — Sente-se. Qual é a sua resposta?

Ele foi direto ao ponto. Sem gentilezas, sem relembrar a situação fodida em que minha família se encontrava. De certa forma, eu apreciei a honestidade brutal.

— Eu aceito. — falei, sem hesitação, surpreendendo a mim mesma.

Ele não demonstrou nenhuma reação, como se já esperasse por isso. Bem, acredito que ninguém na situação da minha família negaria uma proposta como essa. Arthur pegou uma pasta de couro preta ao seu lado e a deslizou pela superfície lisa da mesa até que ela parasse perfeitamente na minha frente.

— Este é o nosso acordo. Contém todos os termos da nossa... — ele fez uma pausa quase imperceptível — ...relação. Leia com atenção e me diga se concorda.

Abri a pasta. As páginas eram de um papel grosso e caro, cobertas por uma linguagem jurídica chata. Comecei a ler, sentindo os olhos dele em mim, me observando, esperando por uma reação que eu não lhe daria.

Passei pelas cláusulas de controle financeiro: uma mesada generosa depositada em uma conta em meu nome, todas as despesas pagas, acesso irrestrito a cartões de crédito. O preço da minha liberdade era bem mais alto do que pensei.

Passei pelas cláusulas de aparências públicas: um número mínimo de eventos para comparecer ao seu lado, a obrigação de manter a farsa de um casamento feliz para a mídia e o círculo social.

Passei pela cláusula de confidencialidade, que me proibia de discutir os termos do nosso acordo ou qualquer detalhe de sua vida pessoal com absolutamente ninguém, sob pena de ruína financeira total.

E então, cheguei à cláusula sobre a relação pessoal. Especificava respeito mútuo em público e em privado, e deveres conjugais a serem “discutidos e acordados mutuamente”. E ali, no último parágrafo, a cláusula que prendeu minha atenção: fidelidade mútua. Em caso de infidelidade comprovada de qualquer uma das partes, a parte traída teria direito a uma indenização financeira imediata e substancial, além da dissolução do acordo.

Um sorriso debochado quase escapou dos meus lábios. Pelo menos nisso, eu estaria segura. Quando meus deveres conjugais forem "acordados mutuamente" e minha habilidades na cama não satisfazerem meu marido, ele provavelmente vai procurar outra. Ao menos desta vez, quando eu for traída, sairei lucrando e ficarei livre.

Cheguei à última página. Peguei a caneta sobre a mesa e, sem hesitar, assinei meu nome na linha pontilhada.

Empurrei a pasta de volta para ele. Arthur olhou para a minha assinatura, depois para mim, com uma sobrancelha ligeiramente arqueada.

— Você não tem nenhuma objeção? Nenhuma cláusula que queira acrescentar?

A pergunta era um teste? Ele queria ver se eu lutaria ou negociaria suas exigências?

— Não serei ingrata, senhor Vasconcelos — respondi, vazia de qualquer emoção. — O senhor dando para mim, e para a minha família, muito mais do que merecemos. O que quer que peça de mim é pouco, se levar em consideração o valor que está pagando para adquirir este produto. — Apontei para mim mesma.

Uma surpresa genuína cruzou seu olhar cinzento. Ele esperava qualquer coisa, menos a aceitação completa do meu novo status como uma mercadoria.

Levantei-me para sair. E, para a minha surpresa, ele se levantou também. Ele era nem alto, muito mais alto do que eu imaginava, e sua presença imponente de repente dominou todo o escritório. Ele me olhou de cima, com o poder irradiando dele em ondas.

— Três dias.

— O quê?

— O casamento civil será em três dias. Esteja pronta. — Não era um aviso. Era uma ordem.

Eu apenas acenei com a cabeça e virei as costas para o meu noivo e novo dono. Saí de sua sala sem olhar para trás. Em apenas três dias, eu deixaria de ser Camila Nogueira, e me tornaria a Sra. Camila Vasconcelos.

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