CAMILA NOGUEIRA
Os três dias que antecederam meu casamento foram os mais longos da minha vida. No mesmo dia em que assinei o acordo, um motoboy entregou um envelope preto em minha casa. Dentro havia um cartão de crédito de metal e sem limite. Minutos depois, meu celular vibrou com uma mensagem de um número desconhecido: "Compre o necessário." A assinatura era apenas "Arthur". Passei os dias seguintes em um transe, executando as tarefas para a minha própria venda. Comprei um vestido. Não um vestido de noiva, mas era formal. Era de um branco gelo, de corte reto, elegante e completamente desprovido de alegria. Comprei sapatos, uma bolsa, e em nenhum momento senti nada além de um cansaço profundo. Meus pais andavam na ponta dos pés ao meu redor, a gratidão e a culpa alternando em seus rostos. Tinham medo de falar qualquer coisa que pudesse me fazer mudar de ideia. Só teriam paz quando me vissem casada. Para a sorte dele, o grande dia chegou. O cartório, no centro de São Paulo, era um prédio antigo e bonito. Meus pais estavam ao meu lado, ansiosos. Logo depois, Arthur chegou com seus pais. Eu nunca os tinha visto. Eram como uma versão mais velha dele, exalando poder e o pai com o mesmo olhar cinzento do filho. Embora os olhos do pai dele tivessem mais calor. A cerimônia foi um borrão. A oficial de justiça leu os artigos do código civil com uma voz monótona, suas palavras se misturando em um zumbido sem sentido. Alguns advogados da família eram nossas testemunhas. — Os anéis. — disse a oficial. Arthur pegou a aliança e se virou para mim. Seus dedos longos e firmes seguraram minha mão esquerda. A pele dele estava quente contra a minha, que estava fria pelo nervosismo. Ele deslizou o anel em meu dedo anelar. Era uma faixa de platina grossa, com um diamante quadrado cravado no centro. Era a algema mais bonita que eu já tinha visto. Peguei a aliança dele, do mesmo material, só que sem o diamante, meus dedos tremeram levemente ao tocar os dele. — Pode beijar a noiva. Arthur se inclinou. Sua mão veio até meu rosto e o polegar roçou minha mandíbula. Ele me beijou. Foi rápido, técnico, um selar de lábios para cumprir o protocolo. Mas no instante em que sua boca tocou a minha, algo aconteceu. Uma corrente elétrica, um choque inesperado de calor percorreu meu corpo, fazendo meu coração tropeçar dentro do peito. Senti a hesitação nele, a forma como seus lábios ficaram alguns segundos a mais do que o necessário antes de ele se afastar bruscamente. Seus olhos pareciam mais escuros por um instante, mas logo a máscara de indiferença voltou ao lugar. Nós dois ignoramos o que quer que tenha acontecido nesse beijo. Assim que a cerimônia acabou, nossos pais vieram nos cumprimentar. A alegria no rosto dos meus era esperada. O que me chocou foi a reação dos Vasconcelos. O pai de Arthur apertou a mão do meu, sorrindo abertamente. Sua mãe me abraçou, exibindo um sorriso animado. — Bem-vinda à família, querida — ela disse, com os olhos azuis brilhando. — Estamos muito felizes. Eles pareciam genuinamente radiantes. Tão radiantes quanto os meus pais. Por quê? Por que os pais de um homem como Arthur Vasconcelos estariam tão felizes com um casamento arranjado com uma família falida? Aquilo não fazia sentido. Em meio aos cumprimentos, senti a mão de Arthur firmemente em minhas costas, me guiando para longe do pequeno grupo. — Já terminamos aqui. Ele me conduziu para fora do cartório, passando pelos meus pais, que acenaram aliviados. Na rua, um sedan preto de luxo esperava com um motorista, diferente do carro em que eu tinha vindo com meu pai. Arthur abriu a porta traseira para mim. Olhei para trás uma última vez, para a minha antiga vida. Então, entrei no carro. Ele entrou logo depois, e o cheiro do perfume dele encheu o espaço confinado. — Você vem para a minha casa agora — ele declarou, sem me olhar, enquanto o carro arrancava suavemente. — É onde você mora. O trajeto do cartório até minha nova casa foi feito em um silêncio total. Olhei de relance para o homem ao meu lado. Meu marido. Arthur já estava no celular, resolvendo algum problema de milhões de dólares em um inglês rápido, parecia indiferente à minha presença. O carro saiu da estrada principal e entrou em uma área residencial murada. Paramos diante de um portão de aço preto maciço que se abriu, revelando uma longa entrada de pedras. A mansão surgiu no final do caminho. Era linda, como esperado. O carro parou sob um pórtico coberto e o motorista abriu a minha porta. Arthur já estava do lado de fora, caminhando em direção à entrada sem nem olhar para trás para ver se eu o seguia. Respirei fundo e segui meu marido. Arthur parou ao tocar na maçaneta e se virou para mim. Acho que finalmente se lembrou do bom e velho "primeiro às damas". — Bem-vinda — ele disse, abrindo-a para mim. Arthur deu um passo para o lado, me dando passagem para a sala de estar principal. Eu dei um passo para dentro, cruzando o limiar da minha nova vida. Meus olhos levaram um segundo para captar algo muito errado naquele ambiente e se arregalarem de surpresa. No centro da sala, reclinada sobre um sofá de veludo preto com a mesma naturalidade de uma gata persa, estava uma mulher. Uma mulher estonteante, de longos cabelos ruivos e um corpo escultural. E ela estava completamente nua.