Helena estava sentada diante da estante, com o primeiro caderno de anotações aberto sobre os joelhos. Era o mesmo onde, anos atrás, havia escrito a frase que daria nome ao livro. A frase que, de alguma forma, continha tudo:
“Entre o poder e o desejo, escolhi o que me queimava por dentro.”
Arthur se aproximou, com uma xícara de chá nas mãos. Clara dormia no quarto, e a noite em Lisboa estava silenciosa, como se o mundo esperasse por aquela conversa.
— Você lembra do dia em que escreveu isso? — perguntou ele.
Helena sorriu, sem tirar os olhos da página.
— Lembro. Foi depois da nossa primeira briga. Quando eu percebi que amar você não era só entrega. Era escolha. E que essa escolha me tirava do controle.
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Arthur se sentou ao lado dela. O caderno estava cheio de frases soltas, rabiscos, trechos de diálogos que nunca entraram na peça. Mas ali, naquela confusão de tinta e papel, havia a semente de tudo.
— O título sempre me intrigou — disse ele. — Porque parece que o poder e o desejo são