Inicio / Romance / Entre o pecado e a vingança / Capítulo 2 – O Homem nas Sombras
Capítulo 2 – O Homem nas Sombras

O silêncio dentro da casa era quase palpável, interrompido apenas pelo leve tilintar da chuva contra as janelas empoeiradas. Emily caminhava devagar, observando os móveis cobertos por lençóis brancos, as cortinas fechadas e o cheiro carregado de mofo e madeira antiga. A casa parecia adormecida — mas havia algo mais ali, algo que ela não conseguia explicar. Uma presença. Um arrepio percorreu sua espinha, fazendo-a se encolher ligeiramente.

— Está perdida? — disse uma voz grave às suas costas, fazendo com que ela se virasse com um salto.

Na escada que levava ao segundo andar, meio envolto pelas sombras, estava um homem. Alto, ombros largos, cabelos escuros bagunçados e barba por fazer. Os olhos, no entanto, foram o que mais a marcou — frios e intensos, como gelo prestes a queimar.

— Me desculpe… eu não sabia que havia alguém aqui — disse Emily, a voz ainda trêmula.

O homem desceu os degraus lentamente, com uma postura quase felina. Seus passos eram firmes, mas silenciosos. Ele usava uma camisa preta com os dois primeiros botões abertos, revelando parte de um peito marcado por cicatrizes. Os jeans escuros e as botas gastas completavam sua imagem rude e indomada.

—Você é Emily Carter, certo?

Ela assentiu, engolindo em seco.

— Sim. E… você é?

—Alexander Wolfe. — Ele parou a poucos passos dela. — Tio de Dylan.

O nome fez o coração dela bater mais forte, não de saudade, mas de raiva. Claro que tinha ouvido falar dele. Alexander era o irmão mais novo do pai de Dylan. O homem misterioso que a família não mencionava muito. Disseram que havia morado fora por anos, que era “diferente”. A ovelha negra.

Agora, ali estava ele — carne, osso, e olhos que pareciam atravessar a alma.

—Eu… achei que a casa estivesse vazia. Eu precisava de um lugar para ficar por uns dias — explicou Emily, sentindo-se cada vez menor diante da presença dele.

—Percebi. Não costuma-se entrar assim na casa dos outros sem bater. — A frase veio carregada de ironia, mas não houve agressividade.

Ela olhou para o chão, envergonhada.

—Desculpa. Eu não estava pensando direito. Aconteceu uma coisa…

—Dylan? — ele perguntou, já sabendo a resposta.

Emily hesitou por um momento antes de assentir. Os olhos de Alexander se estreitaram ligeiramente.

—Suponho que ele tenha feito algo imperdoável.

—Ele me traiu. Com minha melhor amiga. — A voz dela saiu como um sussurro, embargada de dor.

Alexander não disse nada de imediato. Apenas a observou, como se analisasse cada reação, cada traço do rosto dela. Depois se virou e caminhou até a lareira, acendendo um fósforo com destreza e reacendendo o fogo adormecido.

—Então está no lugar certo — disse por fim. — Essa casa abriga muitos corações partidos.

Emily o observou em silêncio. Havia algo nele que a inquietava. Ele era brusco, sombrio, intenso. Mas também havia algo protetor naquela frieza toda, como uma muralha construída por quem já sofreu demais.

—Você vai me deixar ficar?

Alexander a encarou novamente, o fogo agora projetando sombras dramáticas em seu rosto.

—Ficar, sim. Mas sob uma condição.

—Qual?

Ele se aproximou, parando perto demais. A voz veio baixa, quase íntima.

—Não tente mentir para mim, Emily. E não tente me entender. Isso aqui não é seguro. Nem para você… nem para mim.

Ela sentiu a pele arrepiar, o coração disparar. Havia um aviso nas palavras dele — e uma promessa também. Uma promessa de algo perigoso, irresistível.

Emily não respondeu. Apenas assentiu, mesmo sem compreender totalmente no que estava se metendo.

Mas a verdade era simples.

Ela não tinha para onde fugir.

E talvez... não quisesse mesmo fugir.

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