POV: Emily
Acordei assustada. O quarto estava mergulhado numa escuridão densa, cortada apenas por um feixe de luar que escapava pelas frestas da janela. Meu corpo estava suado, o lençol embolado entre as pernas, e meu coração batia tão forte que parecia que eu tinha acabado de correr uma maratona. Sonhei com Alexander. Mas não foi um sonho qualquer. Foi intenso, visceral. Eu ainda podia sentir o toque das mãos dele na minha pele, o calor da respiração dele no meu pescoço. Era absurdo. Irracional. Mal o conhecia, e mesmo assim ele habitava meus pensamentos como uma sombra que se recusa a desaparecer. Levantei da cama, vestindo apenas uma camiseta larga e meias. A casa estava silenciosa, exceto pelo ranger ocasional das paredes antigas. Desci as escadas com cautela, atraída pela luz fraca que vinha da sala. Alexander estava lá, sentado em frente à lareira, com um copo de uísque na mão. A luz laranja do fogo dançava nos olhos dele, e por um instante ele pareceu quase irreal — como se tivesse saído diretamente de um pesadelo sensual. — Não consegue dormir? — ele perguntou, sem nem olhar para mim, como se soubesse exatamente que eu estava ali. Hesitei, mas me aproximei. — Tive um sonho estranho — confessei, sentando no sofá ao lado. Ele bebeu um gole e me lançou um olhar de soslaio. — Comigo? Arregalei os olhos, surpresa. — Como… como você sabe? — Seu cheiro mudou quando desceu as escadas — disse, como se aquilo fosse a coisa mais comum do mundo. — Você ainda está tremendo. Olhei para minhas mãos. De fato, estavam levemente trêmulas. — Você é sempre assim? Intenso… intimidador? Alexander sorriu de canto, mas havia tristeza naquele sorriso. — Só com quem eu percebo que pode aguentar. Cruzei os braços, sentindo-me desafiada. — E você acha que eu posso? — Você chegou aqui em pedaços e ainda está de pé. Isso diz muito. O silêncio caiu entre nós. O fogo crepitava suavemente, e eu sentia o calor tanto das chamas quanto da presença dele. — Por que está aqui, Alexander? Sozinho nessa casa? Ele demorou a responder. Seus olhos perderam o foco por um momento. — Porque já destruí tudo o que toquei. Inclusive a mim mesmo. Não soube o que dizer. Por trás da arrogância e dos olhares cortantes, havia um homem marcado por perdas que eu nem conseguia imaginar. — Você não parece destruído — murmurei. Alexander virou-se completamente para mim. Seu olhar era intenso. Mais do que nunca. — É porque aprendi a esconder as ruínas. E então, sem aviso, ele se aproximou. Devagar, mas determinado. Seu rosto a poucos centímetros do meu. Meu coração parou por um segundo. — Você deveria ter medo de mim, Emily. — Talvez eu tenha — sussurrei. — Mas ainda assim não recua — ele respondeu, os olhos cravados nos meus. — E isso... é o mais perigoso de tudo. Não me movi. Meu corpo implorava por proximidade, minha mente gritava por cautela. Mas havia algo mais forte do que a lógica naquele momento. Algo primitivo, magnético, que me puxava para ele. Alexander, no entanto, se afastou. — Vá dormir — disse em voz baixa. — Antes que eu faça algo que você vá desejar e me odiar ao mesmo tempo. Fiquei ali por um instante, confusa, com os lábios entreabertos. Depois me levantei, sem dizer uma palavra, e subi as escadas de volta ao quarto. Mas naquela noite, o calor dos olhos dele permaneceu queimando na minha memória. E o desejo começava a se transformar em algo ainda mais perigoso: dependência.