(Alexander)
O som da chuva tamborilando contra os vidros do carro era o acompasso da minha ansiedade. Estacionei em frente ao prédio de Emily, o motor ainda ligado, mas meu corpo incapaz de sair. O que estava prestes a fazer exigia mais coragem do que qualquer contrato, qualquer ameaça, qualquer guerra que enfrentei. Porque agora se tratava de vulnerabilidade. De abrir o peito e entregar tudo. Sem jogos, sem mentiras.
Finalmente desci do carro e, ao subir, fui recebido com um silêncio desconfiado. Emily abriu a porta com aquele olhar atento, olhos que um dia eram abrigo e agora pareciam muralhas. Ela usava um moletom velho e estava com o cabelo preso de qualquer jeito, mas nunca me pareceu mais bonita. Nunca me pareceu mais real.
— A gente precisa conversar — falei, e minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia.
Ela deu um passo para o lado, permitindo que eu entrasse. Sentei no mesmo sofá onde tantas memórias haviam sido criadas e destruídas. Ela ficou em pé, os braços cruzados.
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