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Entre a madrugada e o pecado

Eles se beijavam como se o tempo tivesse deixado de existir. Cada toque, cada suspiro trocado era uma confissão silenciosa do quanto haviam se contido até ali. As mãos de Christopher percorriam a cintura de Cristal com reverência e fome, como se memorizasse o corpo dela em cada curva, em cada arrepio que despertava.

Cristal sentia-se leve, quase fora de si — como se o mundo real tivesse ficado do lado de fora daquele instante. Christopher a fazia esquecer das máscaras, das regras, dos limites. Ao lado dele, não existia certo ou errado, apenas o calor dos corpos, os sorrisos entre beijos lentos e a vontade quase desesperada de se manterem colados.

A respiração dela se acelerava toda vez que ele roçava os lábios em seu pescoço, e os olhos fechados revelavam o quanto se entregava sem medo, como se tivesse esperado por isso a vida inteira.

O desejo que sentia por Christopher ia além da pele. Era profundo, avassalador, quase doloroso. Ela queria aquela noite inteira, queria se perder nele e esquecer de quem era antes. Queria que o tempo parasse ali, onde tudo finalmente fazia sentido.

E naquele instante, entre lençóis de silêncio e promessas não ditas, Cristal soube: nunca desejara tanto alguém. Nunca se sentira tão viva.

Ela nem viu o tempo passar, nem queria que passasse, em meio a tanto toques, tantas palavras trocadas. O céu já começava a clarear quando Cristal olhou para o relógio no celular. 05h12.

Ela estava sentada sobre uma rocha próxima ao mirante, o casaco de Christopher sobre os ombros, o vento mais frio agora que a madrugada chegava ao fim. Christopher, de pé ao lado da moto, observava o nascer do dia com um olhar distante — mas seus olhos voltavam para ela a cada minuto, como se temesse que ela desaparecesse a qualquer momento.

— Eu preciso ir — ela disse por fim, a voz baixa, quase um sussurro.

Christopher a encarou, os olhos verdes agora sombrios com o peso da realidade voltando para os dois.

— Vai me dizer que tudo isso não aconteceu?

— Não — ela respondeu, levantando-se. — Aconteceu. Mais do que eu imaginava que poderia acontecer com alguém de verdade. Mas… ninguém pode saber. Não agora.

Ele assentiu, devagar.

— Eu entendo. Mas não vou fingir que não dói.

Ela caminhou até ele, o casaco ainda sobre os ombros. Parou perto o bastante para sentir a respiração dele, mas não o bastante para beijá-lo de novo. Aquele instante precisava ser guardado com cuidado, não despedaçado com pressa.

— Você pode me deixar um pouco antes de casa? — pediu. — Ninguém pode nos ver juntos. Se Raphael desconfiasse...

— Eu sei. — A voz dele saiu mais firme do que parecia possível para quem tinha acabado de entregar o coração. — Sobe aí.

O caminho de volta foi silencioso, mas confortável. Cristal segurava com força a cintura dele, os olhos fechados contra o vento, fazendo ela ter flashbacks de quando tiveram a primeira tensão sexual.

1 ano antes

Casa de praia da família — final de tarde

A brisa salgada entrava pela varanda aberta, trazendo o cheiro do mar e o som distante das ondas. O céu se tingia de tons alaranjados, enquanto Cristal segurava uma taça de vinho branco e observava o mar da sacada. Usava um vestido leve, os cabelos soltos dançando com o vento.

Raphael tinha saído para atender uma ligação de negócios — como sempre. Tinha prometido que voltaria em "dez minutinhos", mas já se passavam quarenta.

Cristal soltou um suspiro e virou um pouco da bebida. Estava sozinha na casa, pelo menos achava que estava, até ouvir passos atrás de si.

— Ele te deixou esperando de novo, né? — A voz grave e familiar de Christopher soou às suas costas.

Ela virou devagar, e lá estava ele: camisa social aberta até o terceiro botão, bermuda de linho e pés descalços. Trazia uma garrafa de cerveja na mão e um sorriso que parecia metade ironia, metade provocação.

— Você está sempre aparecendo do nada — ela disse, não contendo um meio sorriso.

— E você tá sempre aí… esperando. — Ele encostou-se ao batente da porta, os olhos presos nela. — Não cansa?

Cristal desviou o olhar, bebendo mais um gole de vinho.

— Ele trabalha muito. É o jeito dele.

— Não foi isso que eu perguntei.

Ela o olhou. Havia algo nos olhos de Christopher que a inquietava. Algo intenso, afiado, mas que também parecia… terno.

— Por que isso te incomoda tanto? — ela perguntou, baixando a taça.

Ele deu um passo à frente. Só um. Mas foi o suficiente para ela sentir a mudança no ar.

— Porque você é o tipo de mulher que devia ser difícil de esquecer, não fácil de deixar esperando.

O silêncio caiu entre os dois.

Cristal sentiu a pele arrepiar. Não era apenas pelas palavras. Era pela forma como ele a olhava. Não como Raphael — que a admirava como se ela fosse uma obra de arte cara. Christopher a olhava como se soubesse exatamente o que ela escondia por trás dos sorrisos polidos.

— Cuidado com o que você diz, Chris. — A voz dela saiu baixa, quase como um sussurro.

— Você é quem devia tomar cuidado. — Ele se aproximou mais um pouco, agora a menos de um metro dela. A tensão era palpável, quase física. — Eu sei me controlar. Mas se você continuar me olhando assim… vai me fazer esquecer que você é do meu irmão.

Cristal sentiu o coração bater mais forte. O mundo parecia se mover devagar, os sons da praia abafados, a respiração dela presa.

— Eu não estou te olhando de nenhuma forma — disse, mesmo sabendo que mentia.

Ele riu com o canto da boca.

— Não precisa me dizer nada. Eu só… vejo.

Por um momento, os olhos dela buscaram os dele. E no breve instante em que os olhares se encontraram, tudo ficou suspenso. Era um daqueles momentos perigosos — onde um passo a mais, um toque, um gesto, poderia mudar tudo.

Mas antes que qualquer um pudesse agir, o som da porta principal se abriu. A voz de Raphael ecoou:

— Cristal? Amor?

Ela deu um passo rápido para o lado, voltando à posição inicial, com a taça em mãos e o rosto virado para o mar, tentando recuperar o controle da própria respiração.

Christopher apenas se afastou devagar, como se nada tivesse acontecido.

— Tô aqui na varanda — ela respondeu, a voz mais firme do que imaginava que conseguiria.

Ele entrou sorrindo, dando um beijo leve no rosto dela e nem percebeu a eletricidade que ainda pairava no ar.

Mas Christopher percebeu. E Cristal também.

Naquele dia, algo foi aceso. E nenhuma distância entre eles, por mais que tentassem manter, seria o bastante para apagar o que nasceu naquele pôr do sol.

PRESENTE

Quando chegaram a poucas quadras da mansão, Christopher diminuiu a velocidade e parou em uma rua lateral, discreta, cercada de árvores.

Ela desceu da moto devagar, entregando o capacete. Christopher não disse nada. Apenas olhou para ela como se quisesse gravar cada detalhe daquele momento: o cabelo despenteado pelo vento, os olhos azuis ainda marcados pela noite, os lábios entreabertos por palavras que não saíam.

— Se você precisar de mim… — ele começou, mas ela o interrompeu, tocando o rosto dele com os dedos frios.

— Eu sei onde te encontrar.

E então, com um último olhar, ela virou-se e começou a caminhar até o portão de serviço da casa. Cada passo doía mais do que o anterior. A vida real a chamava de volta, com seus silêncios forçados e suas máscaras bem postas.

Mas pela primeira vez, Cristal sabia o que queria. Sabia o que era ser desejada. E isso… ninguém mais podia tirar dela.

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