Dário mantinha os olhos fixos no teto branco do quarto de hospital. As luzes estavam desligadas, mas a claridade do dia forçava-se pelas persianas entreabertas. O seu braço direito estava imobilizado, envolto numa ligadura espessa, e havia arranhões pelo rosto. No entanto, não era o corpo que doía mais. Era o silêncio de Mel. O olhar que ela lhe lançara ao visitá-lo horas antes — distante, contido — não lhe saía da mente.
A maçaneta girou. Dário esperava por Mel, mas quem entrou foi Luna, com uma expressão sóbria e passos decididos.
— Vim ver como estavas — disse ela, sem rodeios.
— Pensei que não gostasses de mim — respondeu ele, forçando um sorriso irónico.
— Não gosto. Mas estou aqui pela Mel. Porque sei o quanto te esforçaste para parecer o homem certo.
Dário arqueou uma sobrancelha. — Parecer?
Luna puxou uma cadeira e sentou-se, cruzando os braços.
— Sim. Porque tu és tudo menos o que ela precisa. E acho que, lá no fundo, até tu sabes disso.
Ele apertou os lábios, sustentando o o