Raul e Rafael Fernandez são irmãos, mas não poderiam ser mais diferentes. Rafael é o rosto da empresa da família — simpático, carismático, sociável. Um CEO que conquista com o sorriso e a leveza. Já Raul é o cérebro por trás de tudo. Reservado, impenetrável, poderoso. Ele não precisa levantar a voz para dominar uma sala — sua presença fala mais alto. Enquanto Rafael encanta, Raul comanda. É entre esses dois homens que Anna Ricci se vê dividida ao ser contratada como assistente executiva a empresa dos Fernandez. Jovem, dedicada e cheia de sonhos, ela mal começa a ver que sua vida está prestes a sair completamente do controle. Rafael a acolhe com gentileza e admiração. Está claro que está interessado por ela — e Anna sente-se lisonjeada com sua atenção. Mas é Raul quem a desestabiliza. Frio, enigmático e absurdamente atraente, ele desperta nela um desejo que beira o insuportável. Desde o primeiro olhar, algo pulsa entre eles. Silêncios carregados, roçadas acidentais, olhares intensos demais para serem casuais. Ainda assim, Raul se mantém afastado. Não porque não a deseje — o desejo é evidente — mas porque está preso a outro dever: Dara, sua namorada, está com câncer. Raul acredita que ela precisa dele agora mais do que nunca. Que deixá-la seria abandono. E assim, ele se cala, se contém... e sofre. Porque cada vez que Anna sorri para Rafael, cada vez que os vê juntos, o ciúme o consome como veneno lento. Ele a quer. Mas não pode. Anna tenta resistir à atração por Raul. Ele a beija... depois recua. Vive lembrando que ela não gosta do irmão dele, como se isso fosse desculpa para tocá-la de novo. E ele está sempre lá: observando, tão perto e tão distante, fazendo o mundo dela tremer.
Leer másOnze horas da noite
Mansão Fernandez
A mansão Fernandez é um labirinto de sombras e luzes suaves. Enquanto caminho pelos corredores familiares, sinto o peso do silêncio, cortado apenas pelo som distante da música que ecoa do andar de cima. O clima opressivo parece refletir a turbulência que carrego dentro de mim desde que soube do câncer de Dara.
A angústia aperta meu peito como um nó, constante e sufocante, lembrando-me implacavelmente do que está em jogo. Meus ombros estão tensos, e sinto uma fisgada no pescoço, fruto de noites mal dormidas. Subo as escadas, tentando silenciar meus pensamentos, mas o ranger do piso sob meus pés ecoa na minha mente como acusações silenciosas. Quando alcanço o topo, vejo a porta do quarto de Rafael entreaberta, e lá está ele, reclinado na cama, com um sorriso despreocupado nos lábios, enquanto uma jovem mulher se move ao seu lado, rindo e brincando como se o mundo fora daquele quarto não existisse. A luz suave do abajur delineia os contornos de seus rostos, destacando a cumplicidade entre eles. Sua beleza é inegável, mas meu desprezo é maior. Rafael sempre teve essa habilidade de conquistar corações e descartá-los com a mesma facilidade. Ele não percebe — ou simplesmente não se importa — que a superficialidade de suas relações o afasta de tudo que realmente importa. Fico ali, imóvel, minhas mãos cerradas em punho, enquanto a jovem se inclina para beijá-lo. Meu estômago se revira, como se eu tivesse engolido pedras. Rafael é tão volúvel, tão incapaz de enxergar além do prazer imediato. Sua indiferença é um soco no estômago, uma lembrança cruel de como ele ignora os valores que nosso pai nos ensinou: responsabilidade, senso de família, respeito. A música continua a tocar, soando como uma melodia triste, irônica, uma sinfonia de descaso. Com um último olhar, abandono o corredor e sigo para minha suíte, como se fugisse do peso insuportável daquela cena. Depois de um banho longo, que não conseguiu lavar a inquietação da minha pele, sigo até o quarto de Santiago, um garotão de dois anos, filho de Rafael, que dorme tranquilamente. Me aproximo devagar, observando-o como se fosse uma ilha de pureza em meio ao naufrágio que é a nossa família. O peito pequeno dele sobe e desce em ritmo calmo, os cílios longos pousados sobre as bochechas rosadas. Santiago não é filho de uma mulher que Rafael amou; ele é fruto de um relacionamento passageiro que Rafael teve com uma dançarina. Às vezes, quase não consigo acreditar que, de alguma forma, ele teve o mínimo de senso de humanidade ao criar o filho. Não seria de se esperar que ele assumisse alguma responsabilidade, especialmente com sua tendência a fugir de tudo que exige comprometimento ou profundidade. Mas ali está Santiago, com seu sono tranquilo e rosto sereno, como uma promessa de algo mais puro em meio ao caos que Rafael parece criar à sua volta. Esse pequeno ser, com sua inocência, é um lembrete cruel de que, apesar das falhas do pai, ainda existe a capacidade de gerar algo bom. Algo que, por mais que Rafael não entenda, traz uma luz tênue de esperança no meio das trevas. Me aproximo e beijo a testa dele, fechando os olhos por um breve instante, tentando absorver aquela calma para mim. "Prometo que vou cuidar de você", penso, mesmo sabendo que promessas têm um peso terrível em tempos de tempestade.Desço até a cozinha, buscando um alívio no silêncio da madrugada.
O aroma residual de café velho ainda paira no ar, misturado ao cheiro amadeirado da casa antiga. A luz fraca da luminária sobre a pia lança sombras dançantes nas paredes, criando um contraste com o vazio dentro de mim. Encho um copo d'água, as mãos um pouco trêmulas, e me sento à mesa, o olhar perdido no nada enquanto tento organizar meus pensamentos. As últimas palavras de Dara ecoam na minha mente, frágeis como vidro: "Não me abandone, Raul." O cheiro do perfume dela — aquele aroma suave de lírios — ainda parece impregnado na minha roupa. Um lembrete doloroso de tudo que está em risco. De repente, ouço passos leves ecoando no chão de mármore. Ergo os olhos, tenso, e lá está ela: a jovem do quarto de Rafael. Ela está seminua, vestindo apenas uma camisa larga — sem dúvida de Rafael — que mal cobre suas coxas. Seu cabelo bagunçado, combinado com o brilho da luz suave, realça a curva de seu pescoço, um detalhe que deveria passar despercebido, mas que agora parece uma afronta.Terça-feira, amanhecerAnnaAcordo com a luz suave invadindo o quarto em faixas douradas. Raul ainda dorme, deitado de lado, com o braço estendido na minha direção, como se me procurasse até nos sonhos. Meu peito aperta — daquela forma estranha de quando algo bonito acontece em meio ao caos.Me levanto com cuidado. O roupão ainda tem o perfume do meu pai. Misturado ao de café da manhã de ontem. Misturado ao toque de Raul.O tempo parece flutuar. Tudo dentro de mim ainda dói, mas há uma nova clareza no fundo do peito. Algo que pulsa. Que pede movimento.Volto ao quarto com duas xícaras de café. Raul já está acordado, sentado à beira da cama, mexendo no celular. Ele sorri quando me vê — e é aquele sorriso calmo, sereno, que ele só usou comigo ontem.— Bom dia — ele diz, com a voz rouca de sono. — Dormiu bem?— O suficiente. — Estendo a xícara. — Fiz café... e tomei coragem.— Coragem? — ele pergunta, franzindo a testa.— Para voltar. — Respiro fundo. — Hoje vou com você. Quero trabalhar
AnnaAcordo antes do sol nascer completamente. A claridade suave entra pela fresta da cortina, dourando o quarto com um tom calmo, quase triste. O silêncio é diferente de ontem. Ainda dói..., mas é menos áspero.Me viro devagar. Raul ainda está ao meu lado.Dormindo.O braço dele repousa sobre minha cintura, como uma promessa silenciosa de que está aqui. Que ficou. O rosto sereno, os traços relaxados. Tão diferente do homem tenso de dias atrás.Observo por alguns minutos, sem pressa.Meu corpo ainda carrega o toque dele e meu coração pulsa com algo que não é só luto.É cuidado.É esperança.Me mexo um pouco, tentando não o acordar. Mas ele sente. Os olhos abrem devagar, sonolentos.— Já é manhã? — ele murmura, a voz rouca.— Já. — Respondo, passando os dedos devagar pelos cabelos bagunçados dele. — Você vai trabalhar hoje?Ele esfrega os olhos, respira fundo e me olha por um instante. Um daqueles olhares que dizem mais do que qualquer palavra. Carrega tudo: o que vivemos ontem, o que
Domingo, fim de noiteRaulO domingo escorre pelas paredes da casa em forma de silêncio.Depois que deixei o apartamento de Dara, não fui para lugar nenhum. Voltei para casa. Tirei os sapatos no corredor, joguei as chaves no móvel da entrada e apenas… me sentei.Fiquei ali. Por horas.Com os braços apoiados nos joelhos e os olhos presos num ponto qualquer da parede. Sem som. Sem celular. Sem distrações. Só o peso daquilo que terminei, do que deixei, do que ainda está por vir.A dor de Dara ainda está aqui, alojada num canto de mim que sei que vai demorar a se curar. Eu a decepcionei. A abandonei no pior momento. Não tem palavra que alivie isso.Mas também sei que, se eu continuasse, eu a machucaria mais. Porque já não era amor. Já não era inteiro.Fecho os olhos. Penso nela. No lenço azul na cabeça. No sorriso que esconde a exaustão. Na força que ela carrega mesmo quando se sente frágil. E penso… que mulher. Que coragem.Mas não é a imagem dela que me acompanha quando me deito no sofá
RafaelO som da porta se fechando ainda ecoa na minha mente quando estaciono o carro na garagem da casa. Tudo está em silêncio, mas o silêncio aqui não é paz. É peso. Um eco constante de tudo que deixei de fazer.Subo para o quarto como quem carrega uma mochila cheia de pedras. Me jogo na cama sem tirar os sapatos. O quarto ainda tem o cheiro da noite anterior — o amargor do álcool, o suor seco na camiseta, a vergonha impregnada no travesseiro.Olho para o teto por longos minutos. Mas o rosto que vejo... é o dela.Anna.E então, sem conseguir segurar, pego o celular.Abro a conversa com ela.A última mensagem dela é de dias atrás. Curta. Educada. Sem nenhuma pontuação exagerada. O tipo de mensagem que diz muito pelo que não está ali.Começo a digitar.Anna, eu não tenho desculpa para o que aconteceu. Eu deveria ter atendido. Eu deveria ter estado lá.Paro. Leio.Apago.Começo de novo.Eu sou um idiota. E você merece mais do que isso. Mais do que um cara que some quando você mais preci
RaulA porta se fecha atrás de mim com um clique seco. O som ressoa dentro do peito como um lembrete incômodo: eu cruzei uma linha. Respiro fundo e deslizo a mão pelos cabelos, tentando organizar os pensamentos enquanto caminho lentamente até o portão. O céu está acinzentado. A rua, silenciosa. Mas dentro de mim, tudo é turvo e ruidoso.Antes que eu possa sair, um carro escuro se aproxima em velocidade incomum. Freia bruscamente diante da casa. Rafael desce antes mesmo de desligar o motor, o rosto marcado por tensão e cansaço.— Raul? — ele me encara, a voz carregada de inquietação. — O que está fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa? Acabei de ver… há várias chamadas da Anna.Fico em silêncio por um segundo, mas já sei que é tarde demais para disfarces.— E só agora você viu?O olhar dele salta para a porta da casa, depois volta para mim. A expressão se transforma rápido: da surpresa à desconfiança. Da confusão à indignação.— Você passou a noite aqui?— Rafael... — começo, tentando ma
Horas depois...AnnaA luz que entra pela fresta da cortina é delicada, dourada, quase tímida. Ela beija meu rosto como um afago, mas não me acorda de verdade.O que me desperta... é o calor.O calor de um corpo que ainda está aqui.Abro os olhos devagar, como quem teme que tudo tenha sido só um sonho. Como quem tem medo de que a realidade, sempre tão dura, venha me arrancar o que o coração mal começou a aceitar. Meus dedos deslizam pelo lençol e encontram pele. A dele. Quente. Real. Presente.Raul está deitado de lado, virado para mim. Os olhos fechados, o rosto sereno, os cílios espessos descansando sobre a pele. A respiração dele é lenta, profunda. O peito sobe e desce com um ritmo que embala, que acalma, como se o sono ainda o envolvesse numa paz rara.E pela primeira vez, desde que meu pai se foi... há paz no meu quarto.Uma paz que não grita. Que não pede licença. Que só... se instala.Como se, por alguns minutos, o mundo lá fora tivesse perdido a urgência. Como se a ausência qu
Último capítulo