Só ela. Não sei o que isso acende em mim. Mas acende. E o pior é que não entendo por quê.Ela é só uma candidata. Eu a conheci agora. Não faz sentido esse tipo de interesse surgir assim, do nada, com essa força estranha que me tira do eixo.Guardo a informação como quem guarda um segredo precioso. Como se, de alguma forma, isso me desse acesso a uma parte dela que ninguém mais conhece.Meu celular vibra na mesa. Com dificuldade, desvio os olhos dos dela e encaro a tela.Dara.E de repente — como uma lâmina atravessando uma brisa — a imagem dela me invade. Seus olhos marejados naquela noite em que me pediu para não contar a ninguém. O medo escondido sob a maquiagem. A força que ela finge ter, mas que só eu sei o quanto está se desfazendo.Minha garganta aperta.Lembro do toque gelado da mão dela. Da forma como ela segura firme minha camisa, como se aquilo fosse a única âncora em meio ao desespero.Ela também não tem ninguém. Só eu.Meus olhos voltam para Anna. Ela continua ali, sentada
AnnaQuando ele estende a mão, minha mente grita uma advertência. "Seja rápida. Seja profissional." Mas há algo em seus olhos que faz minhas pernas tremerem de leve. Ele não olha para mim apenas como um entrevistador avaliando uma candidata. Há algo mais ali, uma intensidade que não sei como decifrar.Eu estico a mão com cautela, tentando parecer calma. Mas, quando nossos dedos se encontram, sinto uma onda de calor que irradia pelo meu corpo. Não é apenas um toque; é um choque, uma corrente que conecta nossas peles e me faz prender a respiração.Seus dedos são firmes, mas não frios como eu esperava. Ao contrário, o toque é quente, seguro, como se ele tivesse a capacidade de envolver o momento em algo único. Tento ignorar a maneira como meu coração parece ecoar o pulsar desse contato, mas falho miseravelmente.— Muito obrigada, Sr. Fernandez. — Minha voz soa firme, mas meu interior está um caos, como se cada célula estivesse reagindo ao toque dele.Quando retiro minha mão, sinto a ausê
AnnaMeu coração bate mais rápido do que o normal enquanto vou para casa. Uma mistura de alívio, alegria e uma gratidão imensa se espalha por mim, como uma onda acolhedora. Fui chamada para o departamento pessoal da empresa, finalmente. Depois de meses de busca, consegui a vaga de Assistente do CEO Rafael Fernandez na Beleza Ibérica. Não consigo conter o sorriso que teima em escapar, mesmo quando o trajeto para casa parece mais longo do que o habitual.Chego em casa e corro para o quarto do meu pai. Como sempre, encontro-o deitado na cama, imóvel, com o rosto pálido, a respiração difícil. Meu coração se aperta ao vê-lo assim, tão vulnerável. Ele, que sempre foi meu porto seguro, agora está fragilizado, e eu me vejo em um lugar onde as forças parecem invertidas. Mas o que carrego comigo hoje não é apenas a notícia do emprego. É algo mais, algo que traz consigo uma esperança renovada, uma luz que, por mais frágil, é real.— Papai, eu preciso te contar uma coisa — minha voz sai trêmula,
AnnaEncontro-me no meu primeiro dia de trabalho como assistente executiva do CEO, Rafael Fernandez, no escritório da indústria de cosméticos "Beleza Ibérica Cosméticos." Imagina como estou nervosa.A manhã começa com a suave luz do sol inundando o espaço, criando uma atmosfera acolhedora. O aroma delicado de perfumes e loções paira no ar, enchendo meus sentidos com antecipação e empolgação. O som suave das teclas de um computador e o burburinho distante dos colegas de trabalho completam o cenário perfeito para um começo promissor.Helen, a secretária que me precedeu, me entrega algumas cartas para digitar, introduzindo-me suavemente nas tarefas diárias e na rotina do escritório. Ela é prestativa, compartilhando sua experiência e sabedoria para garantir que eu me sinta à vontade em meu novo papel. Apesar de sua natureza acolhedora, algo em minha mente não consegue se livrar da expectativa crescente — a ansiedade de finalmente estar no mesmo espaço que Rafael Fernandez.Ao longo da man
Finalmente, retorno à sala do meu chefe, que agora está ao telefone. Ele aponta os documentos para mim, e eu sorrio antes de pegá-los. Quando estou voltando para minha mesa com os papéis assinados, vejo Raul Fernandez, o homem que me entrevistou, aquele cuja presença me deixou desconcertada desde o início.Agora ele está parado em frente à minha mesa, trajando um terno preto risca de giz, impecavelmente cortado, com a camisa branca que destaca a gravata cinza clara, elegante e discreta. Seus ombros largos e a postura imponente ocupam todo o espaço ao redor, como se o ambiente fosse pequeno demais para abrigar sua presença.Meu coração dispara ao vê-lo novamente, uma reação tão intensa que não consigo disfarçar. Há algo em sua postura, na maneira como seus olhos acinzentados e profundos me fixam, que transforma o ambiente em um território mais íntimo, como se, naquele instante, não houvesse mais ninguém além de nós dois.— Você! — Minhas palavras escapam antes que eu possa contê-las, e
Dias depois...AnnaHoje, mal tive tempo de respirar desde que cheguei ao escritório. O telefone não parava de tocar, e eu ainda precisava revisar a agenda de Rafael, que, como sempre, parecia despreocupado. A manhã estava reservada para uma reunião estratégica com a equipe financeira e o departamento jurídico — um encontro importante para revisar orçamentos e aprovações regulatórias da nova linha de produtos que a empresa pretende lançar.Enquanto organizava os relatórios, contratos e documentos de liberação, notei que Rafael ainda não havia aparecido. Isso não era exatamente uma surpresa. Trabalhar com ele era sempre um misto de imprevisibilidade e caos mascarados por aquele sorriso charmoso que ele achava que podia resolver tudo.Minhas mãos se apertam ao redor de uma pilha de papéis quando olho para o relógio. Os minutos passam rápido demais, e Rafael continua ausente. Tento me concentrar no que posso controlar, mas o atraso começa a pesar no ambiente. Helen, a secretária geral, e
Não trocamos nenhuma palavra que não seja profissional. Mas quando ele me olha — quando diz meu nome daquele jeito — é como se falasse direto com algo que mora quieto dentro de mim, num lugar que eu mesma evito tocar. É avassalador.Essa atração que sinto por ele... não é qualquer coisa. Não é só o físico, embora meu corpo reaja como se conhecesse o dele há milênios. É o jeito que ele me observa, com precisão e contenção. Como se me estudasse. Como se me desafiasse. Como se me… admirasse.E por mais que eu tente racionalizar, fingir que é apenas respeito profissional, que Raul é apenas um chefe exigente e atento, há algo em mim que sabe. Que sente.Entre nós há algo mais.Uma tensão quieta. Um campo invisível que vibra quando ele entra na sala. Um jogo mudo que nenhum dos dois nomeia — mas que ambos jogam.E o que mais me atrai talvez seja isso: o que ele esconde. O que nunca diz.Porque parte de mim quer ser a primeira a quebrar esse silêncio.Ou ser vencida por ele.AnnaA noite che
Dois dias depois...AnnaNa noite passada, antes de dormir, repeti para mim mesma como um mantra: "Você vai manter o foco. Você vai trabalhar. Nada de olhares, nada de devaneios."Eu precisava me proteger.Dele.De mim mesma.Dessa coisa que cresce em silêncio e que eu não consigo nomear.Mas agora, aqui, sentada na sala de conferências, rodeada pelas líderes regionais da Beleza Ibérica, sinto o controle escorregar pelos meus dedos.Rafael deveria estar aqui há pelo menos vinte minutos. A sala está cheia, o clima é de tensão disfarçada em sorrisos educados, e as anotações que organizei com tanto cuidado começam a parecer desnecessárias diante do vazio onde deveria estar o anfitrião da reunião.Helen entra e me lança um olhar rápido — como quem já perdeu a paciência e está prestes a tomar providências.— Vou ligar para o Raul — ela diz baixinho, antes de sair novamente com o celular na mão.Meu estômago se contrai. Eu sabia. Desde o momento em que Rafael não respondeu às mensagens pela