— Tudo bem — ela diz, com um tom que é ao mesmo tempo gentil e profissional.Há algo nesse pequeno gesto que me desarma. Um detalhe quase imperceptível, mas que me faz querer entender mais.— Vamos começar. Me fale sobre você e por que acredita ser a pessoa certa para esta posição?Ela respira fundo, e sua postura muda sutilmente. Seus olhos, que antes estavam dispersos, agora se fixam em mim. Há um brilho ali que me prende, uma convicção que cresce à medida que ela fala.— Sou formada em administração e tenho experiência em marketing estratégico. Nos últimos dois anos, trabalhei desenvolvendo campanhas para uma empresa têxtil, mas que infelizmente fechou suas portas aqui em Londres.Enquanto ela fala, algo em seu tom me surpreende. Não é apenas o conteúdo, mas a maneira como ela entrega as palavras, com uma franqueza quase desarmante. Tento me concentrar no currículo, mas minha mente divaga.AnnaO homem à minha frente permanece em silêncio por um momento, como se absorvesse cada pal
RaulAnna é um paradoxo diante dos meus olhos: sua beleza tem uma força desarmante, mas não é só isso que a faz se destacar. É o brilho em seus olhos, uma determinação que parece inabalável, misturada a uma vulnerabilidade cuidadosamente escondida.É como se cada palavra dela carregasse um peso genuíno, como se ela não estivesse tentando me impressionar, mas, sim, me convencer de sua verdade. Isso deveria ser reconfortante, mas, na realidade, me desconcerta.Seus olhos me desafiam de forma sutil, sem perceber. Há um brilho ali, uma intensidade que mexe de certa forma comigo. Minha mente deveria estar focada em avaliar suas qualificações, em julgar objetivamente se ela é capaz de lidar com as demandas do cargo, mas a verdade é que estou mais fascinado pela pessoa à minha frente do que pelo currículo à minha mão.Ela responde à minha pergunta sobre enfrentar o caos com firmeza. A resposta é prática, objetiva, mas o que realmente me impressiona é o controle em sua voz, mesmo quando sei q
Só ela. Não sei o que isso acende em mim. Mas acende. E o pior é que não entendo por quê.Ela é só uma candidata. Eu a conheci agora. Não faz sentido esse tipo de interesse surgir assim, do nada, com essa força estranha que me tira do eixo.Guardo a informação como quem guarda um segredo precioso. Como se, de alguma forma, isso me desse acesso a uma parte dela que ninguém mais conhece.Meu celular vibra na mesa. Com dificuldade, desvio os olhos dos dela e encaro a tela.Dara.E de repente — como uma lâmina atravessando uma brisa — a imagem dela me invade. Seus olhos marejados naquela noite em que me pediu para não contar a ninguém. O medo escondido sob a maquiagem. A força que ela finge ter, mas que só eu sei o quanto está se desfazendo.Minha garganta aperta.Lembro do toque gelado da mão dela. Da forma como ela segura firme minha camisa, como se aquilo fosse a única âncora em meio ao desespero.Ela também não tem ninguém. Só eu.Meus olhos voltam para Anna. Ela continua ali, sentada
AnnaQuando ele estende a mão, minha mente grita uma advertência. "Seja rápida. Seja profissional." Mas há algo em seus olhos que faz minhas pernas tremerem de leve. Ele não olha para mim apenas como um entrevistador avaliando uma candidata. Há algo mais ali, uma intensidade que não sei como decifrar.Eu estico a mão com cautela, tentando parecer calma. Mas, quando nossos dedos se encontram, sinto uma onda de calor que irradia pelo meu corpo. Não é apenas um toque; é um choque, uma corrente que conecta nossas peles e me faz prender a respiração.Seus dedos são firmes, mas não frios como eu esperava. Ao contrário, o toque é quente, seguro, como se ele tivesse a capacidade de envolver o momento em algo único. Tento ignorar a maneira como meu coração parece ecoar o pulsar desse contato, mas falho miseravelmente.— Muito obrigada, Sr. Fernandez. — Minha voz soa firme, mas meu interior está um caos, como se cada célula estivesse reagindo ao toque dele.Quando retiro minha mão, sinto a ausê
AnnaMeu coração bate mais rápido do que o normal enquanto vou para casa. Uma mistura de alívio, alegria e uma gratidão imensa se espalha por mim, como uma onda acolhedora. Fui chamada para o departamento pessoal da empresa, finalmente. Depois de meses de busca, consegui a vaga de Assistente do CEO Rafael Fernandez na Beleza Ibérica. Não consigo conter o sorriso que teima em escapar, mesmo quando o trajeto para casa parece mais longo do que o habitual.Chego em casa e corro para o quarto do meu pai. Como sempre, encontro-o deitado na cama, imóvel, com o rosto pálido, a respiração difícil. Meu coração se aperta ao vê-lo assim, tão vulnerável. Ele, que sempre foi meu porto seguro, agora está fragilizado, e eu me vejo em um lugar onde as forças parecem invertidas. Mas o que carrego comigo hoje não é apenas a notícia do emprego. É algo mais, algo que traz consigo uma esperança renovada, uma luz que, por mais frágil, é real.— Papai, eu preciso te contar uma coisa — minha voz sai trêmula,
AnnaEncontro-me no meu primeiro dia de trabalho como assistente executiva do CEO, Rafael Fernandez, no escritório da indústria de cosméticos "Beleza Ibérica Cosméticos." Imagina como estou nervosa.A manhã começa com a suave luz do sol inundando o espaço, criando uma atmosfera acolhedora. O aroma delicado de perfumes e loções paira no ar, enchendo meus sentidos com antecipação e empolgação. O som suave das teclas de um computador e o burburinho distante dos colegas de trabalho completam o cenário perfeito para um começo promissor.Helen, a secretária que me precedeu, me entrega algumas cartas para digitar, introduzindo-me suavemente nas tarefas diárias e na rotina do escritório. Ela é prestativa, compartilhando sua experiência e sabedoria para garantir que eu me sinta à vontade em meu novo papel. Apesar de sua natureza acolhedora, algo em minha mente não consegue se livrar da expectativa crescente — a ansiedade de finalmente estar no mesmo espaço que Rafael Fernandez.Ao longo da man
Finalmente, retorno à sala do meu chefe, que agora está ao telefone. Ele aponta os documentos para mim, e eu sorrio antes de pegá-los. Quando estou voltando para minha mesa com os papéis assinados, vejo Raul Fernandez, o homem que me entrevistou, aquele cuja presença me deixou desconcertada desde o início.Agora ele está parado em frente à minha mesa, trajando um terno preto risca de giz, impecavelmente cortado, com a camisa branca que destaca a gravata cinza clara, elegante e discreta. Seus ombros largos e a postura imponente ocupam todo o espaço ao redor, como se o ambiente fosse pequeno demais para abrigar sua presença.Meu coração dispara ao vê-lo novamente, uma reação tão intensa que não consigo disfarçar. Há algo em sua postura, na maneira como seus olhos acinzentados e profundos me fixam, que transforma o ambiente em um território mais íntimo, como se, naquele instante, não houvesse mais ninguém além de nós dois.— Você! — Minhas palavras escapam antes que eu possa contê-las, e
Dias depois...AnnaHoje, mal tive tempo de respirar desde que cheguei ao escritório. O telefone não parava de tocar, e eu ainda precisava revisar a agenda de Rafael, que, como sempre, parecia despreocupado. A manhã estava reservada para uma reunião estratégica com a equipe financeira e o departamento jurídico — um encontro importante para revisar orçamentos e aprovações regulatórias da nova linha de produtos que a empresa pretende lançar.Enquanto organizava os relatórios, contratos e documentos de liberação, notei que Rafael ainda não havia aparecido. Isso não era exatamente uma surpresa. Trabalhar com ele era sempre um misto de imprevisibilidade e caos mascarados por aquele sorriso charmoso que ele achava que podia resolver tudo.Minhas mãos se apertam ao redor de uma pilha de papéis quando olho para o relógio. Os minutos passam rápido demais, e Rafael continua ausente. Tento me concentrar no que posso controlar, mas o atraso começa a pesar no ambiente. Helen, a secretária geral, e