Domingo, fim de noite
Raul
O domingo escorre pelas paredes da casa em forma de silêncio.
Depois que deixei o apartamento de Dara, não fui para lugar nenhum. Voltei para casa. Tirei os sapatos no corredor, joguei as chaves no móvel da entrada e apenas… me sentei.
Fiquei ali. Por horas.
Com os braços apoiados nos joelhos e os olhos presos num ponto qualquer da parede. Sem som. Sem celular. Sem distrações. Só o peso daquilo que terminei, do que deixei, do que ainda está por vir.
A dor de Dara ainda está aqui, alojada num canto de mim que sei que vai demorar a se curar. Eu a decepcionei. A abandonei no pior momento. Não tem palavra que alivie isso.
Mas também sei que, se eu continuasse, eu a machucaria mais. Porque já não era amor. Já não era inteiro.
Fecho os olhos. Penso nela. No lenço azul na cabeça. No sorriso que esconde a exaustão. Na força que ela carrega mesmo quando se sente frágil. E penso… que mulher. Que coragem.
Mas não é a imagem dela que me acompanha quando me deito no sofá