Horas depois, a noite....
Raul
O restaurante ao nosso redor é um refúgio de elegância discreta, mas nada aqui combina com a confusão que me domina por dentro. O aroma delicado das especiarias, as velas tremulando suavemente, tudo parece estar em um ritmo oposto ao do meu coração, que bate pesado e fora de compasso.
Dara está na minha frente, tão luminosa, tão cheia de vida, mesmo que a doença insista em desafiá-la. Ela fala sobre a quimioterapia como se fosse apenas mais um detalhe do dia, um item a ser riscado na lista de afazeres. Sua coragem me espanta, a forma como consegue encontrar graça até nos momentos mais sombrios. Ela ri ao contar sobre uma enfermeira desastrada, e eu tento me conectar, tento estar ali por ela.
Mas minha mente é uma traição constante. Por mais que eu me esforce, ela vagueia para longe, para outro lugar, outra pessoa.
Anna.
Eu deveria me sentir envergonhado, culpado e sinto. Mas a culpa não apaga a intensidade do que carrego dentro de mim. Desde aquela entre