Uma assistente recém-contratada por uma grande empresa de arquitetura enfrenta os desafios de trabalhar ao lado de um chefe rigoroso e frio, conhecido por sua competência e apatia em relação a relacionamentos amorosos. Viúvo e pai de um menino pequeno, o líder da empresa carrega cicatrizes emocionais profundas de um casamento fracassado. Enquanto isso, a assistente, que busca se distanciar de um passado controlado por um pai autoritário, luta para equilibrar sua timidez com a necessidade de se provar no novo emprego. O chefe, pressionado por um testamento deixado pelo pai para se casar novamente em um curto prazo, começa a notar qualidades inesperadas na nova funcionária. Apesar das diferenças culturais e sociais, a convivência diária entre os dois começa a romper barreiras emocionais. O que se desenrola é uma jornada de autodescoberta, reconciliação com o passado e a possibilidade de um novo futuro, enquanto ambos enfrentam dilemas pessoais e profissionais que desafiam suas crenças sobre amor e compromisso. Contexto A história se passa em um ambiente corporativo de alta exigência, ambientado principalmente em uma prestigiada empresa de arquitetura multinacional. Entre a sofisticação dos escritórios e os conflitos pessoais dos personagens, o enredo transita entre o rigor do mundo dos negócios e os desafios de vidas marcadas por perdas e inseguranças.
Ler maisSofia
A voz que chama mais uma das candidata tem um lindo sotaque e é arrogantemente máscula.
A garota de cabelos com um corte moderno se levanta. Seus olhos verdes me encaram como se eu fosse um nada. Deixando claro sua confiança que terá o cargo.
Eu aliso minha saia nervosamente e solto um suspiro. Três garotas já entraram e todas saem, com a mesma expressão, confiantes.
Mas acredito que sem nenhuma resposta. Se o CEO já tivesse a candidata certa, nos dispensaria e não se daria ao trabalho de continuar com as entrevistas.
Acredito que ele entrevistará todas e só então tomará uma decisão.
Solto o ar quando a imagem de cada uma delas invade minha mente: maquiagens muito bem aplicadas, vestidas com roupas de grife aflorando refinamento.
Passo os olhos pela minha saia preta e camisa de corte simples. Meus cabelos castanhos escuros estão presos no alto da cabeça.
Maquiagem? Só um risco de lápis abaixo dos olhos e um batom telha, só para dar uma cor aos lábios.
Respiro fundo. "Espero que a aparência não seja um fator determinante." Afasto esses pensamentos e puxo o ar novamente tentando me acalmar.
Emprego não está fácil. O Brasil está vivendo uma crise medonha. As filas de desempregados aumentam cada dia mais em frente as agências de empregos na disputa das poucas vagas. Eu já me sinto privilegiada de ter sido chamada para essa entrevista, por isso preciso ter fé.
O cargo é extremamente concorrido. A que for escolhida será contratada para a posição de secretária de confiança d o próprio Ozan Adin Ahmad. Dono da empresa multinacional de arquitetura espalhadas pelo mundo.
Segundo a revista Dwell, a Building Design laçou seu ranking anual, o WA100, como uma das maiores empresas de arquitetura. Então esse cargo é muito, mas muito concorrido.
Fica firme! Não seja covarde. Você é capaz, mostre isso a ele!
Depois de alguns minutos de espera, a porta se abre e a garota sai do escritório com um sorriso confiante e eu experimento uma inquietação muito grande.
—Sofia Rodrigues.
Trêmula, me levanto da cadeira, ciente que estou dentro de um edifício luxuoso de quinze andares que compõe esse famoso escritório de Arquitetura.
Meus passos ecoando no chão de mármore rosa me deixam ainda mais nervosa. Entro no escritório claro pelas grandes vidraças, muito amplo e luxuoso. Meus olhos então procuram o homem sentado atrás da mesa de madeira nobre.
Minha nossa! Penso ao dar com os deslumbrantes olhos negros e expressivos, o mais lindo que eu já vi na face da terra e para o meu tormento eles se cravam em mim.
Os cabelos negros como o carvão são bem cortados... não muito curtos.
"Hum, tamanho ideal para se passar os dedos."
Reparo então nos ombros largos dentro de seu lindo terno negro que exala riqueza e sofisticação.
Deus! Acho que o valor dele excede o que ele me pagará de salário caso eu seja contratada.
Esse homem beira a perfeição de tão bonito e fica até difícil respirar no mesmo ambiente que ele está.
Ai que calor....
Agora entendo o porquê Ozan Adin Ahmad é tão cobiçado pelas mulheres.
Seus olhos me inspecionam também. Posso sentir o rubor se espalhando pelo meu rosto e descendo pelo meu pescoço quando ele, sem cerimônia, repara nas minhas roupas. Seus olhos então sobem e procuram os meus:
—Boa tarde. Sente-se.
Eu puxo a cadeira confortável de couro negro e me sento em frente à sua mesa. Ele pega então meu currículo nas mãos:
—Vinte e quatro anos, cursou administração, e aqui diz que trabalhou em uma corretora de imóveis durante um ano. E é só. Nada de cursos de capacitação, mestrado, doutorado...
—Sim.
—Por que saiu da MRV?
Eu engulo em seco.
—Eu...eu derrubei café no colo de um dos clientes quando o servia.
Ele ergue uma de suas sobrancelhas perfeitas e dá um sorrisinho, meu coração dispara.
—Devia estar bem quente.
Eu assinto sem sorrir.
—Sim, estava.
Ele abre mais o sorriso e eu prendo o ar. Seus dentes são lindos, alvos.
"Ah esse cara realmente é perfeito!"
—Gostei da sua sinceridade em me dizer o motivo. — Ele se reclina na cadeira enquanto olha meu currículo e então me encara. —Seu currículo não tem nada de extraordinário. Ao contrário das garotas que saíram daqui. Elas são bem mais capacitadas.
Eu me irrito, acho é mais por esse cara me abalar tanto do que por suas palavras:
—Por que me chamaram para a entrevista se eu não tenho o perfil? —Pergunto controlada, mas passo uma certa irritação na voz.
Ele me avalia com os olhos e então acena a cabeça.
—Eu também estou me perguntando isso.
Eu me levanto.
—Bem, então se é isso, boa tarde senhor Ahmad.
—O quê? Desistiu?
Eu respiro fundo e o encaro sem entender.
—O senhor mesmo disse que as garotas são bem mais preparadas do que eu.
Ele acena com a cabeça.
—Verdade, mas você parece o tipo de pessoa que veio realmente para trabalhar e solucionar problemas e não para criá-los....
O que ele quer dizer com isso? Será que ele teve experiências ruins com funcionárias?
—Então estou no páreo?
Ele me olha por um tempo e me olha como se tivesse tomado uma decisão.
—Muito mais que isso. Está contratada.
Eu engulo em seco.
—Estou?
—Exatamente. Pode começar amanhã?
Eu o encaro ofegante.
—Sim, senhor. Claro. Estarei aqui cedo.
—Ótimo. Então é isso. Até amanhã.
—Obrigada por ter me contratado, o senhor não irá se arrepender.
—Estou apostando nisso!
A chegada de Ömer transformou nossa casa em um refúgio de amor, mas também trouxe uma reflexão profunda sobre o caminho que trilhei até aqui. Aquele pequeno ser, tão frágil e tão poderoso, trouxe uma luz que parecia despertar algo adormecido em mim. Desde o momento em que ouvi seu primeiro choro, algo dentro de mim mudou para sempre. Eu o segurava em meus braços e sentia seu corpinho quente, como se fosse uma promessa de um futuro brilhante. Eu, que tantas vezes achei que o destino fosse cruel, agora agradecia a cada segundo por estar vivendo aquele momento.Com Osman, meu primogênito, as coisas foram diferentes. Não por falta de amor, mas porque, na época, eu era um homem perdido em ambições e cobranças. Eu não soube enxergar a magnitude do privilégio que era tê-lo em meus braços. Trabalhando longas horas e lidando com as incertezas de um futuro que eu ainda não compreendia, muitas vezes deixei escapar momentos preciosos que jamais voltariam. E isso me machuca. Agora, com Ömer, eu te
Santorini é uma das joias do Mar Egeu, uma ilha onde o passado e o presente se entrelaçam em um cenário de tirar o fôlego. Devastada por uma erupção vulcânica no século 16 a.C., sua paisagem única é um testemunho da força da natureza. As casas brancas com tetos azuis se empilham em encostas íngremes acima da Caldeira, um vulcão extinto cujas fontes termais ainda emanam calor.Esse lugar, que parece saído de um sonho, é conhecido como um dos destinos mais românticos do mundo, e também um paraíso para os amantes da boa mesa. E eu posso dizer com toda a certeza: nada supera a experiência de explorar Santorini ao lado do amor da minha vida.A primeira vez que estive aqui foi com meu pai, Felipe. Ele sempre teve um olhar visionário, capaz de enxergar o que meu coração ainda não conseguia perceber. Agora, ao lado de Ozan, meu grande amor, e do nosso filho Osman, cada paisagem, cada momento, ganha um novo significado.Visitamos juntos Akrotíri, o incrível sítio arqueológico da Idade do Bronz
—Sofia. Allah! Não! E não pretendo prendê-la a mim contra a sua vontade. Juro que o que menos estou pensando é na minha herança. Quero que me ouça e entenda os sentimentos que habitam dentro de mim. Por favor, eu te imploro.Quieta, ela me encara altiva, tentando a todo custo omitir suas emoções, não perco a maneira como seus lábios tremem com as minhas falas.—Por que você não me contou do testamento?Rio amargo.—Por mim, você jamais saberia.Eu avanço rápido, pego seus braços e a puxo para mim. A abraço forte, beijo seu pescoço e sinto-a estremecer. Ela então me empurra. Eu me afasto um pouco, mas não permito que ela saia dos meus braços.—Por quê? Responda-me!—Sofia, você não entendeu ainda que a realidade se tornou mais forte do que tudo isso? Por que falar do testamento se a vontade de me casar se tornou verdade? E você é a grande responsável por essa mudança. Você me mudou Sofia...Eu a puxei para mim, minhas mãos sôfregas passaram por suas costas e ouvi seu soluço, isso corto
Ozan tem me mandado flores todos os dias. Os bilhetes que acompanham os buquês vêm com frases apaixonadas, cada palavra tentando me convencer de que o amor dele por mim é real. Confesso que leio os bilhetes, mas depois os jogo fora junto com as flores.Cada uma dessas mensagens me atravessa como uma faca. Ainda assim, não consigo evitar entortar os lábios num gesto amargo ao lembrar os dizeres:“Sofia, eu te amo. Quando me casei com você, não me senti forçado a nada.”“Sofia, você é a mulher da minha vida. Eu te amo.”“Sofia, não tenho visto as flores. Você continua me evitando. O que mais posso fazer para provar o meu amor?”Ele não entende que me senti enganada? Traída. Quebrou minha confiança de uma forma que não sei se pode ser reparada. Onde estavam essas declarações de amor no dia a dia? Durante tanto tempo, ele foi ausente, sempre trabalhando demais, sempre com explicações vagas que não faziam sentido.Eu trabalhei ao lado dele, conhecia sua rotina, e, de repente, tudo mudou. Como
O tempo passa e nada de Sofia. Estou sentado na nossa cama, na penumbra do quarto, esperando por ela. O abajur ao lado emite uma luz fraca e vacilante, quase sufocado pelo peso do silêncio que ecoa no ambiente.A noite avança, mas Sofia continua ausente. Meu peito está em um nó tão apertado que a respiração parece rápida e insuficiente. Allah! Já mandei inúmeras mensagens, e todas chegam, mas ela não visualiza. A angústia me consome, devorando qualquer resquício de calma que eu tentava manter.Olho ao redor do quarto. Tudo parece impregnado de memórias dela: o travesseiro que conserva o cheiro do shampoo, o lençol amarrotado que ainda guarda os rastros das noites que dividimos.As horas escorrem, implacáveis. Na solidão, revisito nossa história. Cada cena, cada gesto, cada palavra que poderia ter dito e não disse. Me pergunto, aflito, se deixei lacunas tão grandes a ponto de fazer Sofia duvidar do meu amor. Sei que, no início, o casamento surgiu como uma obrigatoriedade imposta. A pre
Ela dá uma risada amarga.— Veio cedo. É isso que está procurando? — diz, erguendo o pen drive.Entro e fecho a porta, encarando-a.— Não era para você ter visto isso.— Deus! Ou Allah, como você diz! Agora eu entendi tudo...Semicerro os olhos, e meu sangue corre denso em minhas veias.— Sim, você entendeu. Mas eu posso explicar.Sofia se levanta irada.— E eu pensando que você se casou por pensar realmente no seu filho, mas isso aqui é muito pior... Você foi forçado a isso. Eu me sinto enganada, traída.Meu olhar deve estar angustiado. A raiva nos olhos de Sofia é clara, intensa.— Não é bem assim, Sofia.— Não?Ela solta uma gargalhada sarcástica. Sua expressão se torna muito arisca. Quando me aproximo mais, ela se levanta do sofá e se afasta. Meu peito fica pesado pela angústia de vê-la tão quebrada.— Sofia, sente-se e vamos conversar como adultos. — Suas lágrimas surgem novamente. — Por favor, sente-se.— Eu entendo que esteja preocupado com a nossa separação. Um ano, não? Um an
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