O homem que me observa como se eu fosse um segredo.
De volta à empresa, o relógio marca quase seis. O salto ainda machuca meus pés, mas agora carrego algo diferente do que tinha de manhã: a sensação de dever cumprido.
A reunião foi um sucesso. Rafael se superou, e eu consegui acompanhar, mesmo com o corpo ainda fraco e o coração descompassado pelas emoções do dia. Organizo meus relatórios em silêncio, tentando recuperar alguma ordem dentro de mim, quando escuto a porta se abrir devagar.
Levanto os olhos.
É ele.
Raul.
Parado na entrada da sala com as mãos nos bolsos, a expressão contida, mas os olhos... os olhos não disfarçam nada.
— Vim ver se você está bem.
Minha respiração falha por um segundo. O corpo ainda lembra o toque dele mais cedo, a firmeza com que me segurou, o calor do paletó em meus ombros.
Assinto, com um sorriso pequeno, mas verdadeiro.
— Estou, sim. Obrigada por mais cedo. De verdade.
Ele se aproxima. Os passos são firmes, mas há hesitação neles. Como se cada um carregasse o peso do que ele sente, mas não pode dizer.
—