NARRADO POR ALANA
(a mulher que aprendeu a disfarçar ferida com pose de deboche)
A água gelada caiu como tapa.
Daqueles que não vem da mão, mas da vida.
Do tipo que te lembra onde dói mais: por dentro.
Esfreguei o rosto com força. Como se desse pra arrancar o olhar dele da minha pele.
Como se desse pra lavar o gosto de saudade da boca.
Mas não dava.
Se fosse fácil, eu já tinha esquecido Caio 'Muralha' desde os quinze anos.
Fechei o registro, o corpo arrepiado pela água e por ele.
Peguei a toalha fina que mais parecia pano de chão e me enrolei, respirando fundo.
Na frente do espelho trincado, vi mais que meu reflexo.
Vi a mulher que tava tentando resistir, mas já tinha metade do orgulho enterrado naquele galpão.
— “Que merda...” — murmurei, o cabelo pingando, os olhos vermelhos de raiva mal digerida.
Abri a mala de novo.
E lá estava ela.
A roupa.
Presente da porra da Aziza.
Peguei o vestido com dois dedos, como quem segura dinamite:
Curto.
Colado.
Preto com detalh