capítulo 23

NARRADO POR MURALHA

(o homem que nunca engoliu a própria saudade)

Ela terminou de falar com aquele olhar que não pedia licença. Não era súplica. Era desafio. Orgulho puro, empilhado em cima de tudo que ela engoliu pra chegar viva até aqui.

Dei um passo pra perto. Só um.

O suficiente pra fazer o ar pesar entre nós.

— “Tu sabe onde encaixa, é?” — murmurei, com aquele meio sorriso torto, mais deboche que ternura. — “Pois encaixa direito então. Porque aqui fora o buraco é mais embaixo, Fagulha.”

Ela ergueu o queixo. Não piscou.

Só respondeu:

— “Se tem buraco, é porque alguém cavou. E a maioria fui eu tentando tirar tua cabeça de dentro.”

Dei uma risada curta, seca.

Cínica.

— “Cê não tirou nada, Alana. Tu largou. Virou as costas e se escondeu atrás de coldre e patente achando que farda apaga raiz.”

Ela deu um passo, peito colado no meu, ainda com meu casaco no corpo como se fosse dela desde sempre.

— “E tu virou o quê, Caio? Rei de cemitério? Patrão de luto? Dono de guerra qu
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