NARRADO POR ALANA
(a mulher que aprendeu a ler silêncio como quem lê ameaça)
A poeira ainda não tinha baixado quando ele parou de olhar.
Ficou ali, de pé, como se a imagem da prima dele sumindo na curva fosse mais importante do que qualquer coisa que tivesse acontecido entre nós.
E eu?
Eu tava ao lado.
Mas me sentia atrás.
Na sombra.
— “Família interessante a tua…” — falei, cruzando os braços, sem esconder o tom ácido na voz.
Ele não respondeu. Só deu aquele sorriso de canto que mais irrita do que acalma.
Aquele sorriso que esconde tudo.
Mas que eu já aprendi a traduzir.
Traduz: “Não vou te dar explicação nenhuma.”
Traduz: “Aguenta firme ou vai embora.”
Traduz: “Te vira, Fagulha.”
E eu me virei tantas vezes…
Mas aquela ali?
Aquela cena?
Me queimou por dentro.
Não pelo jeito que ela pulou no colo dele.
Mas porque ele segurou.
Firme.
Como se tivesse saudade.
Como se fosse casa.
E eu, que achava que tava construindo alguma coisa, percebi que talvez só estivesse invadindo o terreno errado