Os dias que se seguiram foram calmos — calmos demais.
Aurora sabia que, quando o silêncio parecia confortável demais, era sinal de que algo ainda precisava ser dito.
Ela e Davi estavam bem. Compartilhavam risos, filmes antigos, conversas à meia-noite sobre o universo, e até começaram a montar um projeto juntos: o livro ilustrado da história deles. Ele desenhava. Ela escrevia. E, de alguma forma, reconstruíam as partes de si que a vida tentou apagar.
Mas, por trás de cada olhar carinhoso, havia perguntas não respondidas. Medos não ditos. Feridas que cicatrizavam devagar.
— O que você lembra de mim agora? — Aurora perguntou uma noite, enquanto estavam deitados na grama, como costumavam fazer antes de tudo acontecer.
Davi ficou em silêncio por alguns segundos, os olhos voltados para o céu.
— Eu lembro de sensações — respondeu. — Do cheiro do seu cabelo, da sua risada quando finge estar brava, do som da sua caneta escrevendo depressa no caderno. Mas as cenas... ainda vêm como flashes. Uma