A vida não voltou ao normal. Mas ela começou a se ajustar, como peças de um quebra-cabeça perdido sendo recolocadas com paciência.
Davi ainda tinha lapsos. Esquecia nomes, confundia horários, às vezes olhava para o espelho como se esperasse ver outro rosto. Mas, apesar disso, ele parecia mais presente, mais leve. Aurora via isso nos olhos dele quando sorriam, mesmo nos momentos simples: tomando sorvete, ouvindo música no parque, sentados no banco da praça com o caderno aberto entre os dois.
— É engraçado — ele disse certa vez, observando o pôr do sol. — Eu não lembro como te conheci... mas é como se você sempre estivesse aqui.
Aurora sorriu, virando a página do caderno onde escrevia mais um capítulo da história deles.
— Talvez algumas pessoas a gente não conhece... a gente simplesmente reconhece.
Ele observou os traços da letra dela.
— Você ainda escreve sobre nós?
— Sempre. É a forma que encontrei de não esquecer, mesmo quando o mundo muda tudo de lugar.
Houve um tempo em que ela ach