A idéia do livro, que antes parecia apenas um refúgio criativo para os dois, começava a tomar forma de verdade.
As páginas estavam se empilhando, as ilustrações de Davi se tornavam mais detalhadas, mais emocionais. Cada linha desenhada era uma memória recuperada, um sentimento registrado. E, sem perceber, eles estavam construindo não só uma história, mas um pedaço deles mesmos.
Aurora passava as tardes digitando os capítulos no notebook antigo que herdara do avô. Davi, ao lado, rabiscava no tablet emprestado da escola. O quarto dela já parecia um estúdio improvisado: post-its nas paredes, esboços por todo canto, xícaras de chá vazias e playlists românticas tocando baixo ao fundo.
— Sabia que nunca imaginei ser parte de um livro? — Davi comentou, mexendo no cabelo em desalinho. — E agora sou o personagem principal de um.
— Você não é só o personagem — Aurora respondeu, sorrindo. — Você é coautor.
— Isso me dá medo.
Ela riu.
— Por quê?
— Porque agora as palavras têm peso. E as escolhas,