Aurora sempre achou que dor tivesse som.
Um grito. Um soluço. Um estalo.
Mas naquele sábado, quando foi até a casa de Davi e ele abriu a porta com os olhos vermelhos e a respiração falha, ela percebeu:
Às vezes, a dor é muda. E ainda assim, ensurdece.
Ele não disse nada. Apenas saiu da frente, deixando que ela entrasse. A casa estava diferente. Silenciosa demais. O quarto escuro, com as cortinas fechadas, roupas no chão, uma caneca de café frio em cima do caderno de desenhos.
Aurora se sentou na beirada da cama, observando-o. Ele não conseguia manter o olhar. Andava de um lado pro outro, inquieto.
— Davi… o que aconteceu?
— Nada — ele respondeu, rápido demais. — Eu só... tô num dia ruim.
Ela se levantou. Caminhou até ele.
— Você não some por 14 horas por causa de “um dia ruim”.
Ele parou. Os ombros tremiam levemente.
— Minha mãe me chamou de erro hoje. De novo.
Aurora sentiu o peito se comprimir.
— E você acredita?
— Às vezes. Quando tá quieto. Quando todo mundo dorme. Eu penso que ta