A mala era emprestada.
O vestido, feito por uma tia costureira.
E os sapatos... eram os mesmos de ir à missa.
Clara segurava firme os cadernos enquanto o ônibus deixava a última curva de terra batida e entrava no asfalto que levava à cidade grande.
Ela nunca havia viajado tão longe.
Nem tão dentro de si.
Aurora a esperava na rodoviária com uma plaquinha simples: "CLARA – CONSTELA".
Mas Clara reconheceu o rosto dela antes mesmo de ler.
— Você parece menor do que imaginei — disse Clara, com um sorriso tímido.
— E você parece maior — respondeu Aurora.
No carro, Clara não disse muito. Observava tudo com olhos abertos demais, como se quisesse guardar cada poste, cada carro, cada barulho.
Quando chegaram à sede da Constela, o silêncio dela se desmanchou.
— Aqui... parece que os livros respiram.
Dá pra sentir no ar.
A primeira noite foi difícil.
Clara ficou hospedada numa pousada próxima. O quarto era bonito, limpo, mas tinha janelas sem cortinas de pano e uma televisão que ela não sabia des