O quarto de Guilherme estava em meia-luz. Cheirava a chuva e a medicamento suave — o aroma de urgência dando espaço ao alívio. Gabriel havia conseguido a veia do menino com a precisão de um cirurgião e a delicadeza de um pai que acabara de descobrir o próprio coração fora do peito. A hidratação corria. O antiemético fazia efeito. O rosto de Guilherme, antes pálido e assustador, agora estava tranquilo — rendido ao sono.
Mariana ajeitou o cobertor sobre o peito dele. Seu corpo ainda tremia, como se a adrenalina se recusasse a ir embora. Gabriel, parado ao lado, apenas observava. Não respirava — sentia. Então murmurou, quebrado, encantado, devastado:
— Ele é perfeito…
A frase caiu no quarto como algo sagrado. Mariana fechou os olhos. E, na porta, Matheus ouviu. Sentiu o impacto como um golpe. Como se arrancassem algo dele por dentro. O silêncio se expandiu, denso, palpável.
Depois de alguns minutos — com Guilherme estabilizado — Mariana inspirou fundo:
— Vamos descer. Ele precisa des