A noite caiu com suavidade sobre a cidade. O Café Aurora já havia fechado, mas Helena ainda estava lá, sentada à mesa do fundo, com o caderno aberto e a caneta parada. Rafael resolveu ajudar Bianca e lavava as últimas xícaras atrás do balcão, respeitando o silêncio de Helena como quem respeita um santuário.
— Quer que eu te leve pra casa? — ele perguntou, sem quebrar o tom calmo.
Helena olhou para ele. Os olhos não pediam nada. Só ofereciam presença.
— Quero. Mas posso te pedir uma coisa?
— Pode tudo.
— Me leva devagar.
Rafael sorriu. Pegaram o carro e seguiram pela estrada costeira, com as janelas abertas e o som do mar entrando como música. Helena olhava para o céu, tentando organizar os pensamentos que não cabiam mais em frases curtas.
— Você sempre foi assim? — ela perguntou.
— Assim como?
— Cuidadoso. Silencioso. Presente.
— Não. Eu aprendi. Depois que perdi coisas que não soube cuidar.
Helena assentiu. Entendia mais do que queria admitir.
Chegaram à casa dela. Rafael estacionou,