O relógio marcava 5h47 da manhã quando Helena acordou com o som seco da tosse da mãe. O quarto ainda estava escuro, mas ela já sabia que o dia começaria como todos os outros: com urgência, com dor, com silêncio.Levantou-se devagar, os pés descalços tocando o chão frio. A casa era pequena, mas o peso que ela carregava ali dentro a fazia parecer imensa. Cada passo até o quarto da mãe era como atravessar um campo minado — nunca sabia se encontraria reclamações, desprezo ou apenas aquele olhar vazio que doía mais do que qualquer palavra.— Demorou — disse a mãe, sem sequer olhar para ela.Helena não respondeu. Pegou o copo d’água, os comprimidos, ajeitou os travesseiros. Tudo com a delicadeza de quem aprendeu a não provocar tempestades. A mãe tomava os remédios como se fosse um favor que Helena lhe devia. E talvez, no fundo, ela acreditasse que devia mesmo.O câncer havia sido diagnosticado há dois anos. Desde então, Helena se tornara enfermeira, cozinheira, faxineira e, acima de tudo, e
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