O dia começou cinza, como se o céu soubesse que Helena carregava um peso no peito. A mãe havia tido uma noite difícil, e o médico falava em “declínio progressivo” com uma voz que tentava ser neutra, mas falhava. Helena saiu do hospital com os olhos secos, mas o coração úmido. Não chorava — não ainda. Mas tudo nela parecia prestes a desabar.
Foi ao Café Aurora sem saber por quê. Bianca a recebeu com um olhar preocupado, mas não disse nada. Apenas preparou um chá de hibisco e deixou ao lado do caderno de Helena, como quem entende que o silêncio também é cuidado.
Helena escreveu por horas. Palavras soltas, frases quebradas, memórias da infância, medos que não sabia nomear. Às 17h, o céu escureceu de vez. A chuva começou tímida, depois virou tempestade. E foi nesse momento que Rafael entrou.
Molhado, com o cabelo grudado na testa e os olhos brilhando como se tivesse corrido até ali. Helena olhou para ele e sentiu algo se acender — não era surpresa, era reconhecimento.
— Você está encharca