O dia seguinte amanheceu com cheiro de café e silêncio bom. Rafael havia acordado antes, e Helena o observava da porta da cozinha, ainda envolta na manta fina que a cobriu no sofá. Ele mexia no café com calma, como se cada gesto tivesse intenção.
— Bom dia — ela disse, com voz rouca.
— Bom dia, casa.
Helena sorriu. Sentia o corpo leve, mas a mente ainda em movimento. A noite anterior havia sido mais do que conversa — havia sido uma travessia. E agora, ela estava do outro lado.
Sentaram-se à mesa pequena, com pão, frutas e café. Rafael olhou para ela com olhos que não cobravam nada.
— Você está bem?
— Estou. Mas ainda tentando entender tudo o que senti.
— Não precisa entender. Só sentir.
Helena respirou fundo. Queria falar, mas não sabia por onde começar. Rafael percebeu.
— Posso te contar uma coisa?
— Claro.
— Quando eu tinha 14 anos, meu pai foi embora. Sem carta, sem explicação. Minha mãe ficou em silêncio por meses. E eu aprendi que o abandono não grita — ele se instala.
Helena olh