Kaleo
Invadir o apartamento de alguém deveria trazer a adrenalina do crime, a sensação de estar no comando. Para mim, era terça-feira.
A chave da fechadura não me deteve, sempre existe alguém para subornar, sempre existe um acesso que as pessoas esquecem de proteger. Entrei no pequeno espaço que ela agora chamava de lar.
O apartamento era modesto, paredes brancas ainda sem marcas de vida, mas cheirava a ela. Sabão em pó barato, perfume adocicado esquecido numa toalha, café recém-passado na garrafa térmica.
Apaguei as luzes. Sentei-me na sombra, a faca na mão. A lâmina brilhava com a luz da rua que entrava pela janela. Eu só precisava esperar. Esperar que ela entrasse, esperar que o susto pintasse medo no rosto que me persegue até em sonhos.
O plano era simples: assustar, lembrar a ela quem manda. Talvez um corte, nada profundo, apenas o bastante para ela compreender. Mas planos são sempre frágeis diante da realidade.
A porta rangeu. O som do fecho girando fez meu coração acelerar com