Layla
Eu falei para o espelho que estava tudo bem. O espelho riu da minha cara.
Passei o batom, tirei, passei de novo. Liguei o som baixo só para não ouvir minha cabeça. Um bolero antigo virou trilha sonora do crime que é desejar quem te fere. Abri a janela, a amendoeira balançava como se soubesse mais do que eu. Respirei fundo e tomei a primeira decisão do dia.
– Chega. Hoje eu me afasto do Kaleo.
Disse em voz alta, para ver se acreditava. Não acreditei. Por isso mesmo, peguei o celular e digitei para Bart:
– Hoje à noite, aqui em casa? Preciso de… normal.
Ele respondeu na hora, com um coração e um:
— “Claro.”
O alívio veio com atraso. Eu precisava de previsibilidade, de alguém que me colocasse de volta no trilho que eu mesma escolhi.
Passei a tarde tentando ocupar as mãos, dobrei roupas que não precisavam ser dobradas, alinhei livros, lavei a louça que já estava limpa.
Quando nada mais sobrou, sentei no tapete e comecei a escrever um e-mail para a ONG. Apaguei três vezes. Era inút