O Preço Do Pecado

A luz do amanhecer invadia o quarto de hotel, tingindo os corpos entrelaçados de Miguel e Helena em tons dourados. O ar ainda carregava o calor da noite anterior, pesado, denso, quase cúmplice. Helena observava o homem ao seu lado, os dedos trêmulos traçando a cicatriz em seu peito – uma lembrança de um passado que ele nunca explicara direito. Aquela linha fina e torta era mais do que uma marca; era um aviso silencioso do que Miguel era capaz de suportar… e provocar.

– Você vai mesmo voltar pra ele? – Miguel perguntou, a voz rouca da noite maldormida, os olhos fixos no teto como se ali estivesse escrito o destino deles.

Helena engoliu seco. O cheiro dele ainda impregnava sua pele – whisky, cigarro e algo selvagem, como madeira queimada. Diferente do aroma controlado de Gustavo, sempre impecável, sempre calculado. O contraste era cruel. E real.

– Eu não tenho escolha – ela mentiu, virando o rosto para a janela. Lá fora parecia tão distante, tão indiferente ao que acontecia entre aquelas quatro paredes. As buzinas, os gritos, a vida seguia lá fora. Mas ali dentro, o tempo parava.

Miguel sentou-se de repente, os músculos tensionados como se estivesse pronto para uma luta.

– Todo mundo tem escolha, Helena. Você só tá com medo de pagar o preço.

Ela fechou os olhos. O preço. A imagem de Gustavo descobrindo-a, da fúria silenciosa dele, das consequências que ela nem queria imaginar… não se tratava apenas de perder um casamento. Era perder a estabilidade, o nome, talvez até a própria liberdade.

– Ele vai me destruir, Miguel. E você também.

Miguel riu, um som amargo, quase debochado.

– Deixa ele tentar.

Foi então que o celular dela vibrou, cortando o silêncio com brutalidade. Gustavo. A mensagem era curta, sem emoção:

"Almoço no escritório. 13h. Não se atrase."

Um comando. Uma armadilha?

Miguel arrancou o telefone da mão dela e leu, os olhos escurecendo.

– Não vá.

– Se eu não for, ele vai saber.

– Ele já sabe! – Miguel a puxou para um beijo brutal, os dentes roçando seu lábio até sangrar. – Você tá vivendo como se ainda houvesse volta. Não há.

Ela gemeu, o sabor do sangue e do desejo se misturando. Era errado. Era perigoso. Mas quando as mãos dele desceram por seu corpo, marcando-a com a promessa de mais, Helena deixou-se afundar naquele abismo quente.

Miguel a empurrou contra a cabeceira da cama, os olhos cravados nos dela com uma intensidade que fazia o mundo desaparecer ao redor.

– Dessa vez, você vai olhar pra mim – ele ordenou, a voz um rugido grave.

E quando ele entrou nela, foi com uma força crua, uma intensidade que a fez gritar. Nada da frieza metódica de Gustavo. Aquilo era vida, era fogo, era pecado puro. Cada investida era um protesto contra tudo que ela havia construído – e uma confissão do que realmente desejava.

– Você é minha – ele rosnou no ouvido dela, cada palavra uma facada no casamento perfeito que ela se esforçara tanto para manter.

E no auge, quando o mundo desmoronou ao redor deles, Helena chorou – não só de prazer, mas de culpa. Uma culpa que queimava por dentro, mais do que qualquer desejo poderia apagar.

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No escritório de Gustavo Montenegro – 12:55h

A chuva batia na janela com uma cadência quase ritmada, como se acompanhasse os pensamentos de Gustavo. Seus dedos tamborilavam sobre a mesa em um compasso preciso, uma valsa invisível que denunciava sua inquietação.

Do outro lado da sala, Sérgio Amaral sorria, despreocupado, bebendo seu café com a arrogância de quem nunca teve algo realmente a perder.

– Sua esposa está atrasada – Sérgio comentou, lançando um olhar curioso por cima da xícara.

Gustavo não sorriu.

– Helena sempre chega na hora exata.

O silêncio que se seguiu foi denso. Um silêncio que parecia carregar presságios.

E então, a porta se abriu.

Ela estava ali.

Molhada da chuva, os olhos baixos, como se o mundo inteiro pesasse sobre os ombros. Gustavo não precisou de explicações. Ele apenas a olhou. Longo. Firme. Como quem já sabia.

E ao fundo, uma gota escorreu pela janela, lenta, até desaparecer.

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