Miguel acordou com um gosto amargo na boca. Não era bebida. Era pressentimento.
Ao seu lado, Helena ainda dormia. O rosto virado para ele, os cabelos espalhados no travesseiro. Pela primeira vez em dias, ela parecia leve. Pela primeira vez, em muito tempo, havia silêncio — não o silêncio do medo, mas da trégua.
Ele se levantou devagar, sem fazer barulho. Andou até a cozinha, ligou a cafeteira e, enquanto o cheiro amargo do café tomava o ar, pegou o celular no balcão. Uma nova mensagem piscava na tela.
"Hoje é só o começo. Ele não vai sair ileso."
Miguel fechou os olhos por um instante.
Era Gustavo.
Respirou fundo e foi até a porta da frente. Checou trancas. Verificou janelas. Fechou todas as cortinas. A paranoia não era nova, mas agora tinha nome e endereço.
Abriu um aplicativo de segurança no celular, ativando a função de rastreamento. Depois, pegou um pequeno pen drive preso atrás da geladeira e o colocou no bolso. Era uma cópia antiga de tudo que ele sabia sobre Gustavo — arquivos