A porta do escritório se fechou atrás dela com um estalo surdo. Helena desceu os corredores do prédio como quem fugia de um incêndio. Mas o que queimava estava dentro dela. Cada palavra de Gustavo ecoava, cada olhar, cada silêncio dele, preenchido de intenções.
"Miguel negociou comigo"
Essa frase a corroía por dentro.
Na rua, a chuva engrossava, caindo sobre os ombros dela sem piedade. O táxi não apareceu. O Uber cancelou. Então ela andou. De salto, com a maquiagem borrando, com o coração pesado como concreto.
O telefone vibrou novamente. Mensagem de Miguel.
"Última chance. Hoje. 22h. A casa no Cosme Velho. Se você não vier, nunca mais me procure."
Era um aviso. Um corte. E um convite para o abismo.
22h00 – Cosme Velho
A casa era velha, escondida entre as árvores. Helena conhecia aquele lugar. Já tinha estado ali com Miguel, meses atrás. Foi onde tudo começou. Onde o casamento dela virou fumaça e desejo. Onde o “nós” nasceu.
As luzes estavam acesas. A porta entreaberta. Ela entrou sem