A luz da manhã entrou pelas janelas sem cortina da velha casa no Cosme Velho. Diferente da luz dos hotéis de luxo, ali o sol não pedia licença — ele invadia, real, quente, humano.
Helena acordou primeiro. Ainda nua, o lençol grudado na pele úmida de suor, misturado com o cheiro de Miguel, da noite, do que não devia, mas já não conseguia evitar.
Miguel dormia pesado, o rosto sereno como se, pela primeira vez em muito tempo, tivesse encontrado descanso. Ela o observou por longos minutos. As sobrancelhas arqueadas. O queixo por fazer. O peito subindo e descendo devagar.
Tocou sua cicatriz com a ponta dos dedos, devagar. Não perguntou sobre ela. Não mais. Aquela marca já fazia parte dela também.
Ele abriu os olhos de repente, como se sentisse o toque mesmo dormindo.
– Ainda aqui? – Miguel murmurou, a voz rouca de sono e surpresa.
– Não sabia se ia conseguir sair – Helena respondeu, sem encará-lo de imediato.
– Isso é um problema? – Miguel perguntou, puxando-a suavemente para perto.
– Não