O dia começou com um céu de azul pálido, quase transparente, como se a luz quisesse pedir licença para entrar. Isadora saiu da pensão mais cedo do que o costume e caminhou devagar até a livraria, como quem mede o pulso da rua antes de tomar decisões. No muro da esquina, uma palavra surgira durante a madrugada, pintada com tinta apressada: “Mente”. Abaixo, em letra menor, outra mão acrescentara: “Nós vemos.” Ela parou por um segundo diante daquele diálogo anônimo e percebeu que, mesmo quando não estava falando, a cidade conversava por ela. O medo continuava ali, um animal que se move no canto escuro, mas havia algo novo caminhando ao lado: o entendimento de que a solidão tinha diminuído.
Na vitrine da livraria, o bilhete de apoio continuava colado, o papel ondulado pela umidade. Dentro, o gerente organizava a mesa de novidades e levantou o rosto para dizer bom dia com o mesmo aceno que vinha repetindo desde o início de tudo, um gesto simples que, pouco a pouco, se tornara promessa. Raf